Nas últimas semanas tem sido partilhada nas redes sociais uma publicação que dá conta de uma alegada luta de MMA entre duas mulheres, na qual uma das lutadoras é transgénero. O post é acompanhado de um vídeo com um excerto do suposto combate, bem como de uma legenda que sugere que a luta em questão é prova da “injustiça” cometida contra mulheres cisgénero (indivíduos que expressam uma identidade idêntica à do género de nascença). O autor escreve mesmo que “as mulheres trans estão a tomar o lugar das mulheres biológicas”, questionando ainda se “Nikolas Ferreira está certo ou errado?”. Esta última pergunta é uma referência ao deputado brasileiro que fez um discurso no Parlamento contra “homens que se sentem mulheres”, acabando por ser alvo de queixas no Supremo Tribunal Federal por transfobia.

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A publicação não apresenta grandes detalhes além do vídeo já referido, não explicando, por exemplo, onde e quando terá ocorrido o alegado combate. Ainda assim, fazendo uma simples pesquisa em motores de busca como o Google, não encontramos qualquer notícia verídica sobre a realização de uma luta entre indivíduos trans e cisgénero — à exceção de publicações como a que está em análise.

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Por outro lado, uma pesquisa por ferramentas de identificação de imagens, como a Google Images, permite-nos perceber que o combate em questão teve lugar na Polónia, em outubro de 2021. Integrou um evento da MMA-VIP, uma organização polaca que, de acordo com o site oficial, se dedica a promover “freak show” fights (espetáculos de aberração), uma expressão utilizada para descrever combates com uma profunda disparidade de habilidade, experiência ou peso entre lutadores. A MMA-VIP realiza, igualmente, lutas entre celebridades e pessoas de diferentes géneros.

De acordo com vários sites de desporto internacionais, incluindo o jornal brasileiro “O Globo“, uma das pessoas que aparece nas imagens do combate é Wiktoria Domżalska, uma lutadora polaca. A segunda é Michal Przybylowicz, também conhecido como o “Ken Polaco”, uma personalidade que alcançou a fama no Instagram pelas semelhanças que tem com o famoso boneco fabricado pela empresa Mattel.

Tanto a MMA-VIP como os meios de comunicação que fizeram cobertura do evento foram unânimes em apresentar o combate como uma disputa entre um homem e uma mulher. Igualmente, não é possível encontrar nenhuma notícia online que confirme que qualquer um dos dois se identifica como transgénero. O “Ken Polaco” já comentou, inclusive, o “pseudónimo” que lhe é atribuído inúmeras vezes, incluindo numa entrevista citada pelo tablóide britânico Daily Mail na qual garante que a sua aparência se deve a tratamentos de beleza, não a procedimentos como cirurgias plásticas.

De resto, esta não foi a única luta entre diferentes géneros a ter lugar neste evento em específico. Ainda antes de Domżalska e Przybylowicz entrarem no ringue, mediram forças Piotr “Mua Boy” Lisowski, um outro polaco que ganhou fama nas redes sociais, e a lutadora Ula Siekacz. O resultado foi o mesmo nos dois combates: os homens venceram. Importa referir que este evento, que teve lugar em 2021, provocou na altura uma onda de revolta nas redes sociais, com muitos fãs da modalidade a criticarem a violência demonstrada — em particular em lutas que colocaram frente a frente atletas de diferentes géneros.

A informação presente neste post já foi também desmentida por outros fact checkers internacionais, como Lupa e Estadão.

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Conclusão

A publicação é falsa. O vídeo não mostra uma luta entre duas pessoas, na qual uma delas se identifica como transgénero. Trata-se, na verdade, de um combate de MMA entre um homem e uma mulher, que ocorreu na Polónia no final de 2021. O evento em questão foi alvo de muitas críticas nas redes sociais, nomeadamente pela disparidade da força demonstrada pelos diferentes atletas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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