Circulam várias publicações nas redes sociais que alegam que um número indeterminado de pessoas atravessou o deserto, entre o Egito e a Palestina, para “transportar água, alimentos e mantimentos” para o povo de Gaza, região que está em guerra com Israel desde o dia 7 de outubro. Os posts são acompanhados por aquilo que parecem ser centenas de pessoas a caminhar pelo deserto.

Nessas publicações, são feitos elogios aos “egípcios de bom coração” que estão a arriscar a vida, apesar das “ameaças israelitas e dos bombardeamentos anteriores na passagem da fronteira entre Gaza e o Egito”, que, referem esses posts, “mataram várias pessoas”.

No entanto, essa travessia seria impossível no momento em que a publicação foi partilhada, a 14 de outubro, exatamente uma semana depois do reacender do conflito entre Israel e o Hamas. A fronteira de Rafah — entre o Egito e a Faixa de Gaza — esteve sempre fechada, pelo menos desde o início do cerco à região, anunciado por Israel logo nos primeiros dia do conflito. Os dirigentes egípcios temem e opõem-se fortemente à deslocação massiva de palestinianos para o seu território, o que traria instabilidade ao país.

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Apenas entra e sai da Faixa de Gaza quem está autorizado a fazê-lo pelo governo egípcio, sendo portanto impossível que um grupo de cidadãos cruzasse a pé na fronteira, mais que não seja porque o governo do Egito tem tentado evitar todas as deslocações.

Além disso, as fotografias que aparecem nas publicações não se referem a esse movimento solidário de alguns egípcios. Muitas dessas fotos, que na verdade são frames de um vídeo, já tinham sido publicadas meses antes de o conflito entre Israel e o Hamas ter escalado, na sequência do ataque de combatentes do Hamas em território israelita, na manhã de 7 de outubro. A localização das imagens captadas em vídeo não é totalmente clara, mas há vários indícios de que aquela migração tenha acontecido na fronteira entre o Egito e a Líbia, muito longe da Faixa de Gaza, a quase 900 quilómetros de distância.

A 31 de agosto de 2023, dois meses e meio antes do escalar da guerra, uma conta de TikTok já tinha publicado o vídeo de onde foram retiradas as fotografias das publicações, acrescentando a seguinte legenda: “Al-Salloum, Egito, fronteiras ocidentais”. Para além disso, uma conta do X (antigo Twitter) publicava, a 7 de setembro, o mesmo vídeo com a descrição: “Fronteira líbia-egípcia.”

Conclusão

São falsas as publicações, juntamente com fotografias, que alegam que há egípcios a atravessar o deserto para transportar “água, alimentos e mantimentos” até à Faixa de Gaza. Desde o início do conflito, o Egito tem-se oposto à entrada e saída de pessoas numa região marcada pelo conflito. Para além disso, as fotos, retiradas de um vídeo, não são referentes à fronteira entre Gaza e o Egito, mas sim entre o Egito e a Líbia, tendo sido publicadas meses antes de o conflito ter começado.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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