“Este é o Mikael, a pantera de Kharkiv, que, sozinho, expôs quatro localizações de snipers que acabaram por morrer.” Esta é a descrição de uma publicação de Facebook do passado dia 27 de fevereiro, onde o autor partilha uma fotografia de um gato ao colo de um soldado alegadamente ucraniano. Trata-se, no entanto, de uma publicação falsa.
Além do texto descrito no início, o autor não partilha mais nenhuma informação que comprove que aquele animal tenha, de facto, essa capacidade de seguir as luzes infravermelhas das armas dos snipers da Rússia. A verdade é que esta fotografia já tinha sido partilhada em julho de 2018, muito antes do início da guerra na Ucrânia. Para confirmar essa data basta usar uma das ferramentas de identificação de imagens, como a Google Images, para chegar a essa conclusão. Por exemplo, numa conta de Twitter que alegadamente partilha conteúdos relacionados com animais e o exército ucraniano, essa imagem surge num tweet de 2018. Noutro tweet, o autor desta publicação alegou que tudo não passava de uma brincadeira, como se lê na imagem abaixo.
Depois, olhando para o site Lead Stories, que verificou esta publicação considerando-a como falsa, destaca-se outro dado relevante: o uso de lasers neste conflito. O artigo refere que tal não tem sentido, mas é necessário algum cuidado nessa análise. Ainda que não seja possível perceber se, de facto, quer o exército russo quer o exército ucraniano estejam a usar armas com laser, não é verdade que este tipo de equipamento não seja utilizado.
Portanto, não se pode descartar por completo que determinados tipos de laser sejam utilizados nestes cenários ou por militares espalhados pelo mundo inteiro em exercícios, treinos ou missões. Até porque nem todos estes equipamentos são visíveis a olho nu, como demonstra um documento a que o Observador teve acesso. Olhemos para um exemplo do caso português: os AN/PAQ-15, utilizados na Unidade de Elite dos Paraquedistas Portugueses ou pelo grup de Operações Especiais, ambos forças do Exército. Esses equipamentos só podem ser detetados com aparelhos da mesma gama. Imagens destes aparelhos podem ser consultadas na conta oficial de Instagram do Exército português.
Quanto ao uso de gatos na guerra na Ucrânia, tal, até ao momento, não é possível assegurar. No entanto, é certo dizer que outros tipos de animais já foram utilizados em conflitos de guerra — inclusivamente pelo exército ucraniano, como foi o caso dos golfinhos, na Crimeia, em 2014 — mas há também registo do recurso a cães, ratos, ratazanas (Camboja) ou baleias, como se percebe por um artigo do National Geographic.
Conclusão
Não há nenhuma prova de que o exército ucraniano tenha treinado gatos para “caçar” snipers da Rússia, ainda que vários animais tenham sido usados em cenários de guerra anteriormente. A fotografia partilhada pela publicação original é antiga e tem sido usada, pelo menos, desde 2018. O autor da publicação já desmentiu a alegação, referindo que estava a fazer humor quando associou o recurso a gatos no conflito na Ucrânia. Vários fact-checkers chegaram à mesma conclusão do Observador: a publicação é falsa.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.