Uma imagem partilhada várias vezes nas redes sociais mostra quatro urnas cobertas com a bandeira dos Estados Unidos e junto delas alguns militares. O resto da informação sobre a fotografia vem na publicação que diz que se trata de caixões enviados “de Kiev para a base militar da NATO em Ramstein após o ataque da Rússia aos Patriots em Kiev”.

“Não só o sistema de defesa aérea Patriot em Kiev foi destruído ou ‘danificado’, como se diz, os EUA sofreram perdas em Kiev, como foram enviados caixões de Kiev para a base militar da NATO em Ramstein após o ataque da Rússia aos Patriots em Kiev”, consta no texto que acompanha esta imagem cuja autoria não está atribuída.

A imagem original está disponível no site da Getty Images (um banco de imagens) e é atribuída ao departamento de Defesa dos EUA/Arquivo de Segurança Nacional. Foi captada na base aérea da força aérea de Ramstein, na Alemanha, segundo a descrição disponibilizada onde também consta tratar-se de “caixões com os restos mortais dos membros da tripulação do helicóptero Black Hawk que caiu numa missão de treino noturno no Kuwait. A fotografia foi disponibilizada a 28 de abril de 2005 pelo Pentágono, entre mais de 700 imagens que foram divulgadas nessa altura com o regresso de vítimas em combate aos Estados Unidos.

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Print screen da Getty Images onde está a fotografia original, com a descrição em cima.

Nos EUA, existia uma restrição na publicitação destas imagens pelas agências de notícias desde a primeira guerra do Golfo, em 1991. Um ano antes desta imagem ter sido divulgada tinha existido uma controvérsia nos EUA, durante a administração de George W. Bush, sobre a validade deste limite que era justificado com questões de privacidade e respeito pelos familiares das vítimas. A restrição ficou conhecida como “The Dover Ban”, numa referência à Base Militar de Dover, em Delaware, principal ponto de chegada de corpos de militares mortos em combate.

Em 2004, o site Memory Hole alegou que não estava a ser cumprida a Lei de Liberdade de Informação, acusando o Pentágono de não cumprir a legislação. Nessa altura, foram libertadas algumas imagens na internet — entre as quais a que aparece nesta publicação –, facultadas por trabalhadores das bases aéreas, contra a vontade do Departamento de Defesa norte-americano, que mantinha a justificação da privacidade dos familiares das vítimas. O argumento contrário ao do Pentágono era a acusação de gestão política que a administração estaria a fazer quanto aos custos dos conflitos em que os EUA estavam envolvidos, nomeadamente no Iraque e Afeganistão.

No entanto, o limite manteve-se e só anos mais tarde, já na administração de Barack Obama, foi levantado. O fim da restrição de publicação pelos media surgiu em dezembro de 2009, 18 anos depois de ter sido criada e passou a ser possível o registo fotográfico do regresso de militares mortos, desde que exista acordo da família. O assunto tinha sido levantado por Obama logo em fevereiro de 2009, pouco depois de ter tomado posse como presidente dos EUA, quando disse que o tema precisava de ser revisitado — curiosamente o seu então vice-presidente Joe Biden (hoje Presidente dos EUA) tinha contestado esta mesma política anos antes, quando era senador por Delaware e acusou a administração Bush de estar a trazer os soldados mortos “na calada da noite”.

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Imagem original divulgada pela Getty Images em 2005.

Conclusão

A imagem divulgada não é de caixões vindos de Kiev com militares dos EUA mortos após um ataque russo na Ucrânia, como refere a publicação. E nem sequer foi captada na base militar da NATO em Ramstein, na Alemanha. Trata-se de uma fotografia divulgada em 2005 da chegada dos caixões com os restos mortais dos membros da tripulação do helicóptero Black Hawk que caiu numa missão de treino noturno no Kuwait em março de 2001. Não há qualquer relação entre a imagem e a Ucrânia onde não há, oficialmente, soldados americanos em combate — embora existam alguns elementos que se voluntariam para combater no terreno ao lado da Ucrânia, alguns deles até foram mortos no terreno. A cooperação oficial dos EUA tem sido através do fornecimento de armamento e instrução militar.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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