A publicação tornou-se viral no início deste mês, ainda antes do momento em que o Irão desencadeou um ataque contra Israel, depois de um outro ataque, anterior, que os iranianos atribuem aos israelitas às suas instalações diplomáticas na Síria. O texto e imagens partilhados diversas vezes no Facebook (que considerou essas publicações suspeitas) dariam conta do suposto fornecimento de armas do Irão à Síria, com vários camiões a serem filmados a atravessar a fronteira do Iraque com esse país.

É apresentada como uma informação recente, mas sem qualquer referência à fonte da mesma. A fotografia usada é igualmente descontextualizada, não tendo sequer referências à autoria ou à data em que foi captada. Na imagem é possível ver vários camiões em fila a carregarem o que parece ser armamento.

A imagem original é de um fotografo da European Pressphoto Agency (EPA) e isso mesmo pode ser verificado no site da agência, bem como a data em que foi registada, 18 de abril de 2019, e também do que se trata. Na descrição da imagem consta que se trata de uma fotografia de “camiões do exército iraniano a transportarem mísseis”, sim, mas como parte das “celebrações do Dia do Exército” no país.

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A imagem também não foi captada na fronteira do Iraque com a Síria, mas sim em Teerão, capital do Irão. Na descrição consta ainda que, nesse dia, os iranianos “apelaram aos países do Médio Oriente para se unirem contra os Estados Unidos — no meio de tensões crescentes entre os dois países após a classificação dos Guardas Revolucionários do Irão pelos EUA como uma organização terrorista”.

No início de abril de 2019, os Estados Unidos declararam a Guarda Revolucionária do Irão, uma divisão das forças armadas iranianas, uma organização terrorista. A decisão foi comunicada pela Casa Branca — era, na altura, presidente Donald Trump — com o argumento de que com esta medida os EUA pretendiam “expandir significativamente a margem e o nível da pressão máxima sobre o regime iraniano”, avisando que ficava “bem claro os riscos de fazer negócios com a Guarda Revolucionária do Irão ou oferecer apoio”.

Entretanto, cinco anos depois, o Médio Oriente vive uma escalada do conflito, com Israel e o Irão no centro da tensão (com respetivos aliados). No início deste mês, um ataque ao consulado iraniano em Damasco, na Síria, fez vários mortos entre a Guarda Revolucionária Islâmica do Irão e, apesar de nunca reivindicado oficialmente pelos israelitas, foi atribuído pelo Governo iraniano a Telavive. O líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, jurou vingança logo nessa altura.

E a meio de abril, o Irão lançou, pela primeira vez, um ataque direto a partir do seu território contra Israel, disparando centenas de mísseis e drones em direção a todo o território israelita. Os EUA mantiveram “apoio de ferro” a Israel, perante este ataque em que os israelitas — precisamente apoiados pelos americanos — conseguiram intercetar alguns dos drones no espaço aéreo da Síria. A influência americana junto de Israel está a ser vista pelos especialistas como decisiva para a eventual escalada deste conflito, que o Observador explicou neste trabalho.

A noite em que a “guerra-sombra” do Irão e de Israel ficou a um passo de se tornar uma guerra aberta

Conclusão

A publicação surge no atual contexto de escalada do conflito entre Israel e o Irão no Médio Oriente, mas as imagens usadas são muito anteriores e não dizem respeito ao que consta no texto da publicação. É conhecido o apoio iraniano ao presidente sírio Bashar al-Assad e são recorrentes as informações sobre o fornecimento de armamento e tecnologias do Irão à Síria (é uma acusação várias vezes assumida por Washington). No entanto, a imagem que está a ser veiculada como um momento em que estavam a ser transportadas armas de um país para o outro através do Iraque foi registada em Teerão. A coluna de camiões militares a transportar mísseis foi registada durante as comemorações no Dia do Exército em abril de 2019.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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