O vídeo, partilhado dezenas de vezes no Facebook, começa com uma mulher que irrompe por uma sala de aulas e arranca uma bandeira LGBT da parede. Por trás, até então coberto pela bandeira, surge um mapa dos Estados Unidos. “Eu não pago impostos para apoiar isto!”, grita a mulher, ao mesmo tempo que atira a bandeira para dentro de um caixote do lixo. Com um ar surpreso, a professora que conduzia a aula pede à mulher que abandone a sala. “Isto é uma escola pública”, tenta argumentar a professora, que é impedida de recuperar a bandeira atirada para o lixo.
O excerto dura um minuto em alguns dos posts com este conteúdo; noutros, a cena estende-se por cerca de dois minutos e meio. O vídeo original — com mais de 55 mil visualizações e que revela a explicação para aquele aparente confronto — dura bastante mais, quase sete minutos. No final, depois de a mulher revoltada sair de cena (e da sala), há um corte no vídeo e é então que aparece Jibrizy. Humorista, autor do vídeo, o norte-americano explica o que estava ali em causa: “Olá a todos. Isto é só um sketch. Qual é a vossa opinião sobre o que acabou de acontecer, em que uma mãe arranca uma bandeira e diz que o dinheiro dos impostos dela não serve para apoiar esta atividade numa escola?”
Na verdade, o episódio servia para que os seguidores do humorista tomassem uma posição sobre o contacto de alunos do sistema público de ensino norte-americano com temas relacionados com a sexualidade e orientações sexuais dos jovens. Mas esse contexto está ausente de muitos dos posts que estão a circular nas redes sociais e o vídeo está a ser promovido e partilhado como uma forma de protesto legítima contra o ensino deste tipo de conteúdos nas escolas públicas do país.
“Os pais já estão fartos. Está na hora de defender os vossos filhos nas escolas públicas contra essa doutrinação LGBT”, diz uma das utilizadoras do Facebook que partilhou este conteúdo. “Grande mãe” e “parabéns para essa mãe” são outros comentários feitos por utilizadores da rede social que tiveram contacto com o vídeo.
Esta não é a primeira vez que Jibrisy publica vídeos em que simula situações reais, muitas vezes relacionadas com a causa LGBT. É o caso de um vídeo — publicado a 15 de setembro, exatamente na véspera do conteúdo referido anteriormente — em que um aluno se lança na direção da professora (neste caso, interpretada pela mesma pessoa que fazia o papel de mãe revoltada no vídeo da bandeira LGBT) avisando-a de que estava a tratá-lo pelo pronome errado. “Já te disse para parares de te referir a mim como um ‘ele’. Eu sou uma ‘ela’”, diz o estudante, já com o rosto colado ao da professora.
No final da cena, o mesmo desfecho: Jibrisy aparece na imagem para explicar que se trata de um conteúdo ficcionado e pede aos seguidores que deixem os seus comentários sobre aquilo a que acabaram de assistir.
Mas o modelo usado pelo humorista colhe críticas. “Estou a ficar farto destes vídeos. TENS DE ESPECIFICAR NO INÍCIO DOS VÍDEOS QUE SÃO FICÇÃO”, critica um dos seguidores. “Estás a fazer com que muita gente fique incomodada com isto”, acrescenta. “provocar divisão e gerar ódio por cliques, fama ou dinheiro não é apenas desonesto mas também ofensivo e imoral”, escreve outro utilizador.
Conclusão
O conteúdo é real, no sentido em que o humorista Jibrisy criou o vídeo e partilhou-o com os seus seguidores no Facebook. Mas, na versão original, o norte-americano explica que tudo não passou de uma cena ficcionada e pede opiniões sobre aquele episódio. Nas partilhas do vídeo, esse momento final foi cortado (em alguns casos, a maior parte do vídeo ficou mesmo fora do conteúdo apresentado) e a cena é apresentada como uma situação real que teria ocorrido numa escola dos Estados Unidos. Essa edição levou a que muitos considerassem ter-se tratado de um episódio verídico.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ENGANADOR
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
PARCIALMENTE FALSO: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.