Nas redes sociais, circulam várias publicações que denunciam que a ministra da Saúde dos Países Baixos, Fleur Agema, reconheceu que a pandemia de Covid-19 tinha sido uma “operação militar” híbrida planeada pela NATO. “O Ministério da Saúde obedece à NATO”, terá dito numa sessão da câmara baixa do Parlamento neerlandês, num print com a fotografia da governante colocado nos posts.
Nas publicações, agradece-se aos Países Baixos por alegadamente terem “admitido” que a pandemia tinha sido uma operação da NATO. “A verdade vai libertar-vos. Prendam todos aqueles que estão envolvidos neste ‘exercício da NATO’.”
Para além das redes sociais, vários portais partilham esta informação, como o eadaily (que partilha notícias da Eurásia, claramente com pendor pró-russo) ou o Slay News. Nesses sites, há mais informações. Por exemplo, a ordem para gerar pandemia teria sido dada pela Aliança Atlântica e pelo Coordenador Nacional de Segurança e Contraterrorismo dos Países Baixos, cargo que foi ocupado, entre 2013 a 2018, pelo atual primeiro-ministro neerlandês, Dick Schoof.
Segundo o portal eadaily, a ministra da Saúde neerlandesa acusou o Coordenador Nacional de Segurança e Contraterrorismo dos Países Baixos de levar a cabo um “golpe de Estado”. Aquele portal acrescenta declarações de um suposto especialista, Cies van den Bos, que apela à “abolição” daquele cargo, de modo a que “governos sombra” não “consigam ganhar tração novamente”.
Além disso, estes portais referem que a NATO preparou um conjunto de orientações “para responder à Covid-19”, que “foram distribuídas através de ministros dos Negócios Estrangeiros dos Estados-membros”. De acordo com as informações veiculadas nesses sites, isso explicaria o motivo pelo qual a Suécia, que apenas se juntou à Aliança Atlântica em 2023, foi “o único país na Europa que aderiu a uma política mais suave [nas restrições] durante a pandemia”.
Ora, nenhuma destas informações foi confirmada publicamente, nem é sustentada. Aliás, vários países da NATO chegaram a registar um número elevado de vítimas mortais por dia. Nestas publicações, também não deixa de ser suspeito a ligação entre a Aliança Atlântica e Amesterdão, uma vez que o atual secretário-geral e primeiro-ministro neerlandês na altura da pandemia de Covid-19 é Mark Rutte.
Certo é que Fleur Agema, do partido de extrema-direita Partido Pela Liberdade (PVV) de Geert Wilders, nunca admitiu que a pandemia de Covid-19 foi uma “operação militar” montada entre os serviços secretos neerlandeses e a NATO. Na sessão parlamentar de 24 de outubro de 2024 para discutir o orçamento para áreas da Saúde, Bem-Estar e Desporto, que as publicações nas redes sociais assinalam que foi onde a ministra confessou a suposta verdade, a governante falou apenas sobre a preparação para uma eventual pandemia futura.
Na sua intervenção, a ministra realçou que os Países Baixos estão obrigados a cumprir os requisitos da NATO para a preparação de uma pandemia, defendendo ajustes orçamentais para alcançá-los. Fleur Agema destacou igualmente que é o Coordenador Nacional de Segurança e Contraterrorismo dos Países Baixos que é o responsável pelo processo e que está em contacto com Pieter-Jaap Aalbersberg, que neste momento ocupa aquele cargo.
A tradução do neerlandês para o inglês está mesmo publicada no Rumble, uma plataforma idêntica ao Youtube. Publicado pela conta do Slay News (portal que dava mais detalhes sobre esta suposta revelação), o título é “ministra neerlandesa admite que a pandemia de Covid-19 foi uma operação militar”. Contudo, o conteúdo difere completamente do título, já que Fleur Agema apenas discute os detalhes orçamentais que implicam a preparação para uma eventual futura pandemia, processo esse que é coordenado com a NATO.
A Reuters também verificou o áudio, traduziu-o do neerlandês para o inglês e desmentiu que a ministra da Saúde dos Países Baixos tenha admitido que pandemia de Covid-19 foi uma “operação militar” da NATO.
Num documento partilhado em 2020 em que denunciava “falsidades russas” sobre a Covid-19, a NATO também negou que a Covid-19 seja uma “arma criada” pela organização militar. “A Covid-19 é uma doença zoonótica. Como confirmado pela Organização Mundial da Saúde, todos os dados disponíveis sugerem o SARS-CoV-2, o coronavírus que causa a Covid-19, teve uma origem natural em animais e não é um vírus fabricado.”
Conclusão
Não é verdade que a ministra da Saúde dos Países Baixos tenha dito, numa sessão da câmara baixa do Parlamento neerlandês, que a pandemia de Covid-19 foi gerada pela NATO como parte de uma “operação militar”. Na sua intervenção a 24 de outubro de 2024, Fleur Agema abordava a preparação para uma eventual futura pandemia, o orçamento para esse efeito e a necessidade de Amesterdão ter de cumprir os requisitos estipulados pelo aliança atlântica.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.