Vídeo partilhado no Facebook pretende mostrar que morrem atualmente “mais vacinados que não vacinados” contra a Covid-19. Mas o autor da publicação chega a essa conclusão a partir de dados insuficientes. Por partes, os dados apresentados têm como fonte o ministério da Saúde inglês até 21 de junho.
Em causa, um estudo sobre a evolução da variante Delta no país há cerca de um mês. Nessa altura, o Reino Unido registava 117 mortes em pessoas infetadas com a variante Delta. Dessas, 50 estavam completamente vacinadas, mas todas tinham mais de 50 anos e a taxa de mortalidade (ou seja, a relação entre as pessoas infetadas e aquelas que, estando infetadas, acabaram por morrer) foi de 0,13%.
No final de junho, quando o relatório foi divulgado, os especialistas britânicos fizeram questão de frisar que as mortes ocorreram em “grupos etários de maior risco” e que são uma pequena parte dos 92.029 casos de infeção com a variante Delta detetados.
Com menos de 50 anos, morreram apenas oito pessoas e nenhuma tinha a vacinação completa (dois tinham recebido apenas uma dose da vacina). Até 21 de junho tinham sido confirmados 92.029 casos da variante Delta no Reino Unido, 117 dos quais morreram e 109 dessas mortes aconteceram em pessoas com mais de 50 anos.
Em Portugal, no dia 23 de junho, a Direção-Geral da Saúde revelava que entre os 2,3 milhões de portugueses que já tinham a vacinação completa há mais de 14 dias, existiam 1.571 casos de infeção, dos quais 49 necessitaram de internamento e 11 morreram.
De acordo com os dados citados à data pela SIC, mais de metade das infeções aconteceram na população com mais de 60 anos: 539 pessoas tinham 80 ou mais anos (34%), 138 entre tinham entre 70 e 79 anos (9%) e 193 pessoas tinham entre 60 e 69 anos (12%). Os restantes casos ocorreram nas faixas etárias entre os 20 e os 59 anos. Trata-se de uma proporção de infeções entre os vacinados que representa menos de 0,07%, um número que aparentemente demonstra a eficácia das vacinas.
Conclusão:
Não é verdade que morram mais pessoas vacinadas do que não vacinadas contra a Covid-19 (ainda que, como há cada vez mais gente vacinada, é mais provável encontrar casos de pessoas que, tendo sido vacinadas, acabaram por morrer, pelo simples facto de que há mais gente já inoculada que pessoas sem qualquer vacina — mas isso não permite concluir sobre a hipotética ineficácia da vacina).
A publicação parte de uma análise muito específica para uma generalização errada. Basta olhar para o relatório da DGS para se ter um exemplo da eficácia das vacinas. Dos 2,3 milhões de portugueses com vacinação completa há mais de 14 dias apenas 1.571 pessoas foram infetadas com a Covid-19. Dessas cerca de 1.500 pessoas (em 2,3 milhões) 49 foram internadas e 11 acabaram por morrer, sendo que das 1.500 pessoas 870 tinham no mínimo 60 anos, ou seja, mais de 55% do total de infetados já vacinados pertence aos grupos etários mais altos, com maior risco de ter complicações graves de saúde. Dos 2,3 milhões de vacinados, a DGS reportava a morte de apenas 11 pessoas com vacinação completa há mais de 14 dias.
Não é, portanto, verde que morram mais pessoas vacinadas do que não vacinadas contra a Covid-19.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.