“Boas notícias para quem não gosta da vacina Covid-19.” É assim que começa uma publicação de Facebook que alega que a União Europeia vai pôr fim à vacinação contra o novo coronavírus, passando a tratar os doentes com ivermectina, um medicamento que chegou a ser defendido por Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, como forma de tratamento dos infetados com SARS-CoV-2.

A partir de 20 de outubro, acrescenta-se na publicação amplamente partilhada no Facebook, mais nenhuma vacina será aprovada na União Europeia. “A União Europeia aprovou cinco terapias que estarão disponíveis em todos os hospitais dos Estados-Membros para o tratamento de covid-19. (…) Essas terapias substituem as vacinas porque as vacinas são aprovadas em uma base de ensaio provisório.”

A publicação que está a ser partilhada nas redes sociais

A publicação continua, fazendo acusações de que a vacina não era necessária, uma vez que os resultados da ivermectina já eram conhecidos — “uma bebida única que pode eliminar todo o material genético da SARS covid-19”.

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Vamos por pontos. A ivermectina é usada para combater piolhos e sarna e já foi testada para tratar doentes com Covid-19, inclusive em Portugal, algo que já não acontece. Em março deste ano, e depois de o Observador ter denunciado que havia médicos portugueses a tomar o medicamento, a autoridade portuguesa do medicamento lançou um alerta. Segundo o Infarmed, não há provas de que o remédio seja eficaz para combater o SARS-CoV-2 com base na produção científica existente até à data. Também a Organização Mundial de Saúde, nesse mesmo mês, deixava claro que não recomenda o uso de ivermectina em doentes Covid-19.

Fact Check. Azitromicina e Ivermectina “matam” o SARS-CoV2?

O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), assim como o congénere norte-americano (CDC), têm comunicados sobre o uso da ivermectina em doentes Covid, não aconselhando esta prática.

Quanto ao link que é partilhado nas redes sociais — e que é, de facto, de um comunicado real da Comissão Europeia — em momento algum se faz referência àquele medicamento ou à substituição das vacinas por ivermectina. Aliás, no documento intitulado “Estratégia da UE em matéria de terapêuticas contra a COVID-19: Comissão identifica cinco terapêuticas candidatas promissoras”, começa-se por fazer uma referência à campanha de vacinação, como sendo “a melhor forma de pôr termo à pandemia e de regressar a uma vida normal”.

Além disso, a 25 de outubro, a Comissão Europeia estabeleceu uma carteira dos dez tratamentos mais promissores para a Covid. Trata-se de potenciais medicamentos, ou seja, os “candidatos mais suscetíveis de serem autorizados e, por conseguinte, de estarem brevemente disponíveis no mercado europeu”. A luz verde dependerá sempre da confirmação pela EMA, a Agência Europeia de Medicamentos, da sua segurança e eficácia.

Conclusão:

Dentro da Europa, Portugal incluído, os alertas apontam no sentido contrário do que alega a publicação: não há, até à data, estudos científicos que comprovem que a ivermectina é eficaz no combate à Covid. Assim, a União Europeia não vai substituir as vacinas contra a Covid-19 por este tratamento, mantendo que a vacinação é a melhor forma de travar a pandemia.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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