São já centenas as publicações a circular na rede social Facebook e que associam as vacinas de mRNA contra a Covid-19 (as mais utilizadas nos países ocidentais) a uma diminuição de 25 anos na esperança de vida das pessoas às quais foram administradas essas vacinas. “Estudo Alarmante: Vacinados com mRNA COVID-19 podem enfrentar 25 anos a menos na expectativa de vida. Pessoas que receberam múltiplas doses dessas vacinas enfrentam uma perda significativa na expectativa de vida, revela estudo abrangente”, diz um dos posts. Mas haverá evidência científica a comprovar o impacto das vacinas a este nível?

A publicação é baseado num artigo da página Colectividade Evolutiva, uma página brasileira dedicada à desinformação e notícias falsas. O artigo, que entretanto deixou de estar disponível, mas cujo título foi replicado dezenas de vezes em publicações nas redes sociais, cita dados do Centro de Prevenção e Controlo de Doenças dos EUA (CDC, na sigla em inglês) e um estudo, conduzido por um analista de seguros.

Vamos por partes. Para justificar a alegação de que as vacinas de mRNA (como as da Pfizer e da Moderna) fizeram diminuir a esperança média de vida num quarto de século, o artigo recorre a uma entrevista dada por Josh Stirling, apresentado como um “analista de seguros” e autor do suposto estudo “Effectiveness of the Coronavirus Disease 2019 (COVID-19) Bivalent Vaccine”. O estudo, publicado na revista científica Open Forum Infectious Diseases, conclui que as vacinas de mRNA conferem apenas uma proteção “modesta” contra a variante Ómicron do SARS-CoV-2. No entanto, não é analisada a evolução da esperança média de vida nos EUA no pós-pandemia.

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Já os dados dos CDC demonstram a tendência exatamente contrária, ou seja, o aumento da esperança de vida no pós-pandemia. Em 2022, a expectativa de vida à nascença foi de 77,5 anos — um aumento de 1,1 anos em relação a 76,4 anos em 2021. Para os homens, a expectativa de vida aumentou 1,3 anos de 73,5 em 2021 para 74,8 em 2022. Nas mulheres, a expectativa de vida aumentou 0,9 anos de 79,3 em 2021 para 80,2 em 2022. Valores que são, ainda assim, inferiores aos da generalidade dos países europeus. Em 2022, a esperança média de vida na União Europeia também aumentou, para 80,5 anos, mais 0,4 anos do que em 2021. Em 2023, registou-se um ‘salt0’ para os 81,5 anos, um valor superior até ao período pré-pandémico.

A única faixa etária em que se registou uma diminuição da esperança de vida nos EUA foi na das crianças até aos 14 anos. As duas principais causas de óbitos nos Estados Unidos em 2022 foram doenças cardíacas e cancro.

Conclusão

É falso que as pessoas às quais foram administradas vacinas de mRNA contra a Covid-19 venham a deparar-se com uma redução de 25 anos na sua esperança média de vida. Nos EUA, os dados do mostram um aumento da esperança de vida em 2022 — já na União Europeia, a tendência foi a mesma e, em 2023, o indicador já superava os valores pré-pandemia.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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