Circula nas redes sociais uma publicação que alega que há cidadãos israelitas a destruir a ajuda humanitária destinada à Faixa de Gaza. A publicação inclui um vídeo onde é possível ver várias pessoas a vandalizar o conteúdo de um camião de carga, destruindo paletes com caixas que transportam um líquido.

“Israelenses destruindo a ajuda humanitária que seria entregue em Gaza. Precisa disso mesmo?”, lê-se na legenda que acompanha o vídeo em várias publicações. No vídeo surge também uma frase que o Google Tradutor identifica como estando escrita em malaio que sugere que os israelitas estão a destruir caixas de leite que seriam destinadas à Faixa de Gaza.

Trata-se, contudo, de uma informação falsa: o vídeo em questão não foi filmado em Israel, mas em França, durante uma manifestação de produtores de vinho daquele país.

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Uma pesquisa reversa através do Google Images por uma captura de ecrã deste vídeo devolve múltiplos resultados que apontam para este protesto em França. Várias publicações em redes como o TikTok, Reddit e Instagram dão conta de que em causa está um protesto de viticultores franceses contra a importação de vinho espanhol.

Várias notícias em meios de comunicação social internacionais confirmam a existência deste protesto.

A televisão britânica Sky News, por exemplo, noticiou em 20 de outubro que cerca de 500 produtores de vinho franceses tinham protagonizado este protesto em Boulou, nos Pirenéus, junto à fronteira com Espanha. Os manifestantes capturaram um conjunto de camiões que transportavam vinho espanhol para França e começaram a vandalizar as caixas, com o argumento de que a importação de vinho espanhol está a causar graves problemas ao negócio do vinho em França.

Em causa estão as importações para França de cava, um vinho espumante tradicional da Catalunha. A espuma branca produzida pela quebra das garrafas atiradas para a estrada poderá estar na origem do rumor de que se tratava de leite.

Ainda segundo a notícia da Sky News, os produtores de vinho franceses dizem ter lançado uma “guerra económica” contra as importações de vinho espanhol. “Os manifestantes em França disseram que estavam a protestar contra a concorrência desleal, já que não têm hipótese de competir com o baixo preço do vinho estrangeiro, o que causou problemas na venda do próprio produto.”

“A partir de hoje, vamos acabar com a possibilidade de comprar vinhos baratos de outros sítios. Vamos parar a importação de vinho espanhol”, disse o presidente do sindicato dos produtores de vinho que organizou o protesto, Frédéric Rouanet, citado pelo The Telegraph. “É o início de uma guerra económica que vamos travar.”

À imprensa francesa, alguns produtores de vinho explicaram que em Espanha há maior tolerância do que em França para o uso de químicos na agricultura, o que permite que um hectolitro de vinho espanhol custe cerca de 40 euros, enquanto em França o custo é de perto de 80 euros.

Em múltiplas notícias de diferentes meios de comunicação social sobre o protesto (exemplos: Libération, Le Parisien, Sky News, The Telegraph) é possível encontrar vídeos e fotografias do camião que surge na publicação que atribui as imagens a um suposto protesto em Israel.

Conclusão

Ao contrário do que alega a publicação que tem vindo a circular nas últimas semanas, o vídeo em questão não mostra cidadãos israelitas a destruir ajuda humanitária que tinha como destino a Faixa de Gaza. Uma simples pesquisa na imprensa prova que aquele vídeo mostra, na verdade, um protesto levado a cabo por produtores de vinho em França contra a importação de vinho espanhol, mais barato devido às diferenças de modo de produção.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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