Circula nas redes sociais uma publicação que sugere que o vírus Simian 40, que alegadamente causa cancro, foi descoberto em frascos da vacina produzida pela farmacêutica Pfizer contra a Covid-19. Mas será verdade que o vírus referido potencia o aparecimento de doenças oncológicas e que o mesmo vírus é um dos componentes da vacina da Pfizer, a mais utilizada em todo o mundo durante a pandemia de SARS-CoV-2?

Segundo o portal Our World in Data, até 14 de junho de 2023 já tinham sido administradas cerca de 665 milhões de doses da vacina, produzida em parceria entre a Pfizer e a BioNTech, isto é, cerca de 73% do total de doses de vacina contra a Covid-19 que foram administradas em todo o mundo.

A publicação que circula no Facebook é formada por uma única imagem. Trata-se de um printscreen de uma notícia do portal brasileiro Duna Press, que se apresenta como um órgão de comunicação social “livre e independente” e que alega que “trabalha a informação jornalística com ética, transparência e respeito ao leitor”.

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A notícia em causa refere que “há preocupações do Professor Murakami, da Universidade japonesa de Tóquio sobre a descoberta alarmante do vírus Simian 40 em frascos da Pfizer. Esta descoberta levanta questões e preocupações sobre os riscos potenciais que podem estar associados ao uso de tais frascos”.

A notícia cita uma publicação do Twitter que alegadamente contém declarações do professor da Universidade de Tóquio, no Japão. “A vacina da Pfizer tem um problema impressionante. Fiz uma descoberta incrível. Esta figura [visível numa imagem que acompanha o tweet] é uma visão ampliada da sequência da vacina da Pfizer. Como podem ver, a sequência contém parte da sequência do V40, um vírus causador de cancro”. A notícia continua, afirmando que esta “sequência é completamente desnecessária para a produção da vacina de mRNA” e que, “se tal sequência estiver presente no DNA, este pode facilmente entrar para o núcleo da célula”. “A Pfizer fez a vacina sem remover a sequência”, realça a Duna Press.

No entanto, a publicação do Twitter foi feita por uma conta que não pertence a Murakami. O Observador tentou localizar as declarações do especialista, mas não há registos de que tais afirmações tenham sido proferidas.

A Agência Europeia do Medicamento (EMA), a quem coube a tarefa de avaliar a segurança das vacinas contra a Covid-19 administradas na União Europeia, descarta a possibilidade de a vacina da Pfizer conter o Simian 40. “Não há evidências para indicar a presença de SV40, um vírus encontrado em rins de macaco, que pode potencialmente causar cancro em humanos, na formulação de vacinas contra a COVID-19”, esclarecia Alessandro Faia, porta-voz da Agência Europeia do Medicamento, em resposta à Associated Press (AP).

Também a farmacêutica Pfizer confirmou que nenhum vestígio de DNA de macaco foi usado na criação da sua vacina contra a Covid-19. “A vacina é uma vacina completamente sintética”, escreveu a empresa. “Houve estudos pré-clínicos utilizando macacos rhesus; no entanto, nenhuma parte de nossa vacina ou estudos utilizou macacos verdes.”

“O medo sobre as sequências SV40 é um absurdo total”, escreveu. “A vacina não vai causar cancro. Não há genes causadores de cancro na vacina”, disse, à AP, Phillip Buckhaults, diretor do Laboratório de Genética do Cancro da Universidade da Carolina do Sul.

Estas alegações tentam reavivar receios antigos. De 1955 a 1963, descobriu-se que até 30% das vacinas contra a poliomielite administradas nos EUA estavam contaminadas com SV40, que veio de células de rins de macaco que haviam sido usadas para fazer as vacinas, de acordo com o site do Centro de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA. Mas estudos posteriores não encontraram “nenhuma associação causal” entre as vacinas contra a poliomielite contaminadas com SV40 e o desenvolvimento de cancro.

Conclusão

Não existe nenhuma evidência de que a vacina da Pfizer contra a Covid-19 contenha o vírus Simian 40, um vírus que pode, de facto, causar cancro (cancro cerebral, ósseo ou hematológico, como o linfoma não-Hodgkin), como explica um estudo publicado pelo National Center for Biotechnolgy Information.

Tanto a Agência Europeia do Medicamento, que avaliou a segurança e eficácia da vacina, como a própria farmacêutica que a produziu — a Pfizer — negam as alegações.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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