Nove horas e trinta e cinco minutos, aproximadamente. Este é o número de horas de luz expectável para esta altura do ano, de acordo com dados do Observatório Astronómico de Lisboa. Ainda muito longe das longas 14 horas e cinquenta e três minutos que poderemos ter no final de julho, mas já não tão pouco tempo como as nove horas e vinte e sete minutos típicos de meados de dezembro. |
Não podemos queixar-nos muito, neste canto da Europa. Por esta altura, os finlandeses que vivem na capital, Helsínquia, têm luz natural por menos de seis horas (em contraste com as 19 de junho). E, um pouco mais abaixo, os dinamarqueses de Copenhaga chegam às sete horas e 18 minutos. |
Já estive duas vezes em Copenhaga: em junho e em novembro, ambas em trabalho há muitos anos. E se em junho os dias são de festa e de pretexto para aproveitar o exterior, em novembro são de recato e de uma certa forma de estar que o autor Henrik Nordbrandt deixou num poema: |
“O ano tem 16 meses: novembro, dezembro, janeiro, fevereiro, março, abril, maio, junho, julho, agosto, setembro, outubro, novembro, novembro, novembro, novembro.” |
Nordbrandt, o poeta e romancista falecido há menos de um ano, descrevia assim os longos e aborrecidos dias do mês que mais irrita os dinamarqueses. Está frio mas ainda não muito. O inverno ainda não chegou mas o outono ainda não acabou. Outubro poderá ter algum romantismo, com a queda das folhas que começou em setembro, e dezembro traz as iluminações de natal, os mercados da época, as lojas enfeitadas e o vinho quente que sabe bem na rua. Mas novembro… “novembro é só chato”, disse-me o dono de uma pequena loja na Jægersborggade, uma rua de Nørrebro, zona da moda convertida a partir de um bairro de má fama. |
Sei que na altura tomei uma série de notas no meu caderno de reportagens, mas não me recordo da quantidade de pessoas que o homem disse conhecer pessoalmente e que deprimiam habitualmente naquela altura do ano. “Mas já estamos habituados, isto depois passa.” |
Aqui, neste canto do continente, não temos um novembro multiplicado por quatro, mas temos um janeiro que não tem habitualmente boa fama. O mês do recomeço do ano, das promessas e apostas, das decisões e resoluções, das dietas que se iniciam e dos regressos aos ginásios transforma-se rapidamente no mês que sucede à alegria do natal. |
Dezembro significa um intervalo lúdico (para a maior parte das pessoas) com muitas calorias e alguma magia, uma espécie de férias sem férias em que não se trabalha da mesma forma. E depois… depois vem o mês que simboliza o regresso ao normal. Ao de sempre. Ao mesmo. Ao habitual. Depois da vontade de mudança nos primeiros dias do ano, janeiro é uma chapada de realidade que nunca mais acaba. |
No final desta newsletter pode encontrar uma série de artigos sobre esta sensação a que alguns especialistas chamam Depressão Afetiva Sazonal, que até está estudada mas que continua a intrigar muita gente. Também pode ocorrer no verão mas é mais comum no inverno, com o número de horas de luz a influenciar diretamente o humor. Menos melatonina e menos serotonina em circulação podem ajudar a justificar alguma irritação ou cansaço. E, claro, aquele mal-estar que queremos que acabe rapidamente e temos esperança que desapareça com a mudança no calendário. Insónias, quebra de energia, dificuldade de concentração e alguma apatia são outros sintomas que podem também ser registados e que não devem ser desvalorizados. |
Nenhuma perturbação mental, permanente ou passageira, deve ser desvalorizada e este “post-holiday blues”, na expressão inglesa é disso um bom exemplo. Se sentir que se prolonga ou que se está a tornar verdadeiramente incapacitante, converse com alguém. E peça ajuda. Só porque é cíclico não significa que tenha de passar por isso. |