Em 2015, António Costa perdeu a eleição contra a coligação PAF de Passos Coelho e Paulo Portas. Mas, afinal («não façam essa cara, que eu não me vou embora»), formou governo, após o que matou politicamente Portas e Passos.

Em 2019, António Costa ganhou as eleições, mas por poucochinho. No entanto, cultivou a aliança com Bloco de Esquerda e PCP, e — governando durante dois anos com cedências altamente danosas para o país –, convenceu ambas as agremiações de que estava nas mãos delas. Viu crescer as ambições herdeiras de Medina, mas os lisboetas mataram-nas; e viu tornarem-se ufanas as ambições do outro herdeiro putativo, Pedro Nuno Santos. Depois, matou as duas agremiações que se julgavam suas donas, e matou as ambições do segundo herdeiro putativo — ao menos no médio prazo.

Desde 2015 a 2021 Costa governou mal, tal como necessitava. Aumentou despesa e funcionários, sem melhoria de serviços. Fez do Serviço Nacional de Saúde um monstro dispendioso e inútil. Fez da Escola Pública o reino da mediocridade. Concedeu benesses ridículas envoltas em propaganda. Impediu o investimento estrangeiro e fez do investimento público uma anedota. Levou a dívida pública a alturas irresponsáveis e perigosas. Manteve o défice estável à força de cativações e mentiras. Assistiu ao empobrecimento relativo do país, mascarando-o com números torturados até confessarem o que não podiam. Fez tudo isto com a complacência e o aplauso dos media — concedidos, em casos como o da SIC, com intenção e grande inteligência fraternais; e, noutros, com absoluta preguiça e falta de brio ou seriedade.

Em 2022, Costa matou o último obstáculo, o Presidente da República, que passará dois anos remetido a dizer inanidades e a dar abraços e beijinhos.

Por fim, Costa pode escolher: ser o habilidoso letal que vem sendo há sete anos, ou seja, mais uma vez poucochinho; ou ser um primeiro-ministro capaz de deixar obra, ou seja, um Portugal menos medíocre, como, admito, menos medíocre foi (com a ajuda de Manuel Salgado) a Lisboa que deixou. Neste caso, e apenas neste caso, terá feito um serviço ao país – Não só pela governação, mas por fazer uma última vítima: o que resta da memória da maioria absoluta de Sócrates.

A mim, eleitor de direita, esta é a esperança de curto prazo que me resta. O azedume, guardo-o para a incompetência de Rui Rio, os disparates do Chicão, as limitações zangadas do Chega, o purismo maníaco da Iniciativa Liberal, e a incapacidade de todos para apresentarem uma frente comum mobilizadora. A esperança futura guardo-a para um Carlos Moedas que, após o longo suplício a que os socialistas o submeterão na Câmara de Lisboa, poderá proclamar «deixem-me trabalhar», deixar marca, e, depois, partir para maiores voos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR