A entrevista que António José Seguro concedeu à TVI serviu, em primeiro lugar, para confirmar que o ex-líder do Partido Socialista, agora professor universitário, sabe de onde vem e para onde quer ir. “Está tudo em aberto”, estas suas palavras não fecham portas e, também, não dizem que chave tem. Sem tabus, A.J.S. respondeu a todas as perguntas, atravessou os últimos anos da governação e não teve problemas em reconhecer que nalgumas áreas o país não está melhor. O “passa culpas”, na sua opinião, é uma desculpa crónica de quem tem governado o país. “É preciso resolver os problemas das pessoas na saúde, emprego, educação, nos serviços públicos, na segurança”, sob pena de os populismos ganharem terreno, uma vez que respondem, momentaneamente, às necessidades das pessoas.
“Exigência ética” é uma condição para quem serve o país, e A.J.S. reconhece-se capaz de honrar esta premissa. “Não procuro o futuro no avesso do passado”. Há nesta reflexão uma memória que nos leva ao ano de 2014, quando António Costa ganhou as eleições internas, como todos sabemos. A sua disponibilidade para ajudar o país é uma consequência natural, num quadro político onde o seu adversário assume as funções de Presidente do Conselho Europeu.
O seu longo silêncio foi uma das maiores lições de coerência. Se é verdade que os caminhos se fazem caminhando, como escreveu António Machado, é sempre impossível adivinhar quando é que um caminho termina para que outro comece. A disponibilidade de A.J.S. para discutir os problemas do país é, para já, uma boa notícia.
A.J.S. regressou ao espaço público para fazer o que sabe, ou seja, pensar e refletir o exercício da política num país que conhece bem; é um regresso responsável face aos imensos apelos que vêm de uma ampla e representativa franja da sociedade portuguesa. O seu silêncio foi uma lição de respeito e, simultaneamente, de despojamento.
Como cidadão acresce-lhe a autoridade de olhar para o que falta fazer – e é muito -, não se limitando a um diagnóstico, lembra aos protagonistas do momento a importância do “diálogo”, um instrumento político para se encontrar soluções e vencer os problemas estruturais do país.
No calendário eleitoral surgem as eleições autárquicas, em Outubro de 2025. Se o Partido Socialista perder essas eleições, Pedro Nuno Santos encontrará algumas dificuldades internas, sendo, talvez, obrigado a antecipar a clarificação da sua liderança. As dificuldades conhecidas, um pouco por todo o país, adensam esse cenário.
As eleições presidenciais estão previstas para janeiro de 2026, e não terá sido apenas uma evocação retórica de Pedro Nuno Santos ao equacionar o nome de António José Seguro como candidato presidencial. Ao fazê-lo, penso que genuinamente, porque foi seu apoiante, conhece as suas qualidades. Se o fez com tacticismo, como já foi acusado por António Costa, a verdade é que a sua hipótese foi bem acolhida dentro e fora do PS.
António José Seguro é um cidadão respeitável que defende uma “exigência ética” a quem exerce cargos públicos. Muitos têm sido os políticos que têm problemas com a Justiça, contribuindo para o descrédito da atividade política e o crescimento do populismo. Num tempo onde tudo é escrutinado, urge que ninguém esteja acima da lei. António José Seguro regressa ao espaço público livre, preparadíssimo para falar de um futuro onde todos queremos participar.