O maior filósofo-vigarista da história, Karl Marx, está para o mundo contemporâneo como Pandora estava para a origem mitológica do mal para os gregos da antiguidade ou Eva para a religião milenar judaico-cristã. Esse é o significado do marxismo para as gerações presentes e futuras.
Em torno das teorias de Karl Marx, desde a segunda metade do século XIX germinaram e frutificaram pelo mundo gerações atrás de gerações de políticos, académicos, intelectuais ou artistas responsáveis pela névoa mais tóxica e densa de sempre para a mente humana, que hoje cobre o planeta. Só secando esse mal na fonte tornará possível assegurar que os seres humanos caminhem rumo a uma ordem moral universalmente válida porque aceite de forma voluntária por todos, assim como passarem a comungar de mesma lógica no uso da razão. A sanidade mental inerente à condição humana depende, no século XXI, desses pressupostos, tal como os gregos da antiguidade e os cristãos conseguiram construir um sentido de universalidade humana, cada um na sua época e modo.
Só daí em diante os povos do mundo podem caminhar no sentido da normalização da paz e concórdia, estabilidade social e política, boa governação e prosperidade económica coletiva. Há cerca de um século, Sigmund Freud explicou a natureza atemporal do ser humano, isto é, o que é acidental pode mudar no decurso do tempo longo, o tempo dos milénios, porém o essencial permanece. Por essa razão, desde as mais remotas origens até hoje é dever primordial das sociedades assegurarem aos indivíduos a compreensão da fonte-mãe dos males do mundo, e de forma simples e objetiva, sabedoria que deve transitar e sedimentar-se a cada nova geração.
Logo, do atual século XXI em diante não faltam razões por todo o mundo para o lugar histórico de Karl Marx na transformação da vida humana na terra ser equiparado ao lugar que, na antiguidade, os gregos atribuíram a Pandora ou os judeus e os cristãos têm atribuído a Eva nos últimos três milénios.
As três fontes do mal entre os humanos
PANDORA – registado em forma escrita no século VIII a.C. por Hesíodo, a tradição mitológica grega assegurava que os deuses guardavam numa caixa, em segredo, todos os males (como a guerra, discórdias ou doenças) e nela havia um único dom, a esperança. Pandora desceu do Olimpo, o reino superior dos deuses, para vir viver junto dos homens na terra com o dever de nunca abrir a caixa. Não resistiu à tentação e, quando viu o que saía, fechou-a de imediato, onde apenas ficou a esperança. Aberta a Caixa de Pandora, o sofrimento humano na terra tornou-se inevitável, pelo que passou a competir a cada ser humano o dever de saber lidar com ele.
EVA – na tradição judaico-cristã registada no Antigo Testamento por volta dos séculos XIII/XII a.C., a sagrada escritura revelou aos seres humanos que, na origem, Adão e Eva foram expulsos do Jardim de Éden porque Eva não resistiu à tentação de dar de comer a Adão o fruto proibido, a maçã. Consumado o pecado e expulsos do paraíso, daí em diante os seres humanos passaram a ter de enfrentar as crueldades do mundo e, mais de um milénio passado, nasceu na terra o filho único de Deus, Jesus Cristo, para remir os pecados do mundo ensinando a cada ser humano o dever de suportar a sua cruz, a garantia do regresso da humanidade ao paraíso celeste após a morte para a eternidade.
KARL MARX – datados do século XIX, os escritos de Karl Marx fizeram descer à terra a destruição da harmonia moral originária entre os humanos. Em particular os mais carenciados (rotulados «oprimidos»), converteram-se à crença de não serem eles os primeiros e principais responsáveis pelo seu próprio destino, antes passaram a remeter as culpas da sua condição para os comparativamente melhor-sucedidos na vida e mais ricos (rotulados «opressores»). Tão revolucionária doutrina da inveja matou-lhes a consciência individual e a consciência social ao quebrar o dogma universal da autorresponsabilidade que, antes de Karl Marx, sempre fez dos fracos fortes e estava distribuído de forma igual por todos os seres humanos da terra: homens, mulheres, ricos, pobres, brancos, negros e demais tipos. Quando a nova fonte dos males do mundo jorrava as primeiras gotas, Sigmund Freud tipificou o princípio da realidade inerente à espécie humana da origem e para a eternidade: o dever de cada um aprender a suportar a dor e a adiar a recompensa. A partir da revelação de Karl Marx, os seres humanos não pararam de se tornar mentalmente desequilibrados pela terra, as suas vidas não mais pararam de se tornar caóticas, tensas, conflituosas; as suas democracias e instituições entraram em dissolução (família, ensino, saúde, justiça, segurança, entre outras); o parasitismo social e a subsidiodependência nasceram e cresceram em forma de bola de neve; o falhanço social e económico de países e continentes inteiros generalizou-se; a violência e o crime não pararam de se agravar e circular por terras e continentes; o mal-estar entre as pessoas tornou-se regra planetária. Resta aos humanos reinventarem o valor das heranças civilizacionais greco-romana e judaico-cristã na condução do seu destino, caso contrário a vida na terra será ainda mais penosa.
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NOTAS COMPLEMENTARES
1) O mundo vai transitando da ordem mitológica e da consequente ordem religiosa para a ordem histórica (ou factual), mas sem que a natureza atemporal da condição humana sofra alterações. Se duvidamos que Pandora possa sequer ter existido para mudar para sempre a vida na terra, não podemos duvidar que Jesus Cristo existiu num espaço e tempo histórico concretos também para mudar para sempre a vida na terra, e os não crentes apenas podem duvidar sobre os detalhes do que disse ou fez. A novidade de Karl Marx é a de já não duvidarmos nem que ele existiu num espaço e tempo histórico precisos, nem que foi ele mesmo o criador da distopia que também mudou para sempre a vida humana na terra, e continua em rédea solta.
2) Karl Marx é a primeira figura masculina que oferece a oportunidade de ser feita justiça a mais de três milénios em que a origem dos males da terra foi remetida para figuras femininas, Pandora ou Eva. Esperemos que, finalmente, as feministas compreendam ser incompatível ser marxista, isto é, ser de esquerda e, em simultâneo, defender a dignidade das mulheres e da condição feminina.
3) A morte da consciência individual e da consciência social nascidas do dogma da «luta de classes», de Karl Marx, ofereceu a uma parte significativa dos adultos a legitimidade de viverem para a eternidade como crianças sem qualquer censura moral ou intelectual. São os «adultos» que monopolizam o direito inalienável de agravarem de modo continuado o mal-estar social e civilizacional, o que inclui carta-branca para imporem aos verdadeiros adultos conflitos, desordem, violência, destruição, caos: «Se sou pobre, a culpa é do rico. Se sou negro, a culpa é do branco. Se fui colonizado, a culpa é do colonizador. Se sou do hemisfério sul pobre, a culpa é do Ocidente rico. Se pertenço a uma minoria, a culpa é da maioria. Se sou imigrante ilegal, a culpa é dos europeus. Se agrido, roubo, violo ou mato a culpa é da sociedade injusta…» Por aí adiante.
4) O filósofo Olavo de Carvalho confirmou e popularizou a sentença de outro filósofo, Eric Voegelin: Karl Marx foi um «vigarista». Com sucesso planetário há mais de século e meio, o filósofo-vigarista impôs o maior empobrecimento de que há memória do entendimento humano ao colocar palas nas mentes para reduzir a sua capacidade de compreensão a um único fator explicativo: ser rico ou ser pobre, a sua condição material da existência. Daí em diante, pouco ou nada se compreende e, pelo contrário, tudo é sumariamente julgado com consequências devastadoras para a moral e razão humanas. Tal deformação mental da espécie humana tornou-se a maior inimiga da complexidade, ambivalência, diversidade, subjetividade enquanto fatores explicativos do destino humano, isto é, da relação do sujeito pensante consigo mesmo e com os outros, com meio envolvente ou com o mundo. Para disfarçar, a ignorância criada pelo filósofo-vigarista vai sobrevivendo disfarçada numa diversidade de rótulos que, no entanto, querem sempre dizer «esquerdismo»: marxismo, leninismo, maoísmo, multiculturismo, globalismo, progressismo. Qualquer deles se esgota na crença de ser pobre é ser «bom» por ser vítima do ser «mau», o rico, ignorando a plenitude inerente à condição humana que se manifesta no livre-arbítrio. Este filia-se a um leque diversificado de capacidades humanas, umas manifestas (racionais, lógicas, conscientes, mensuráveis, visíveis) e outras latentes (inconscientes, subjetivas, impossíveis de captar na mera dimensão racional, porém decisivas, como as do campo da fé religiosa ou dos campos emotivo, afetivo, sentimental). É sempre a conjugação subjetiva desse universo que decide o destino do sujeito individual ou do sujeito coletivo, sendo que estes podem sempre mudar de rumo, o que os torna os primeiros e principais responsáveis por si mesmos. Noutros termos, no destino de uma vida acabam por ser cruciais as atitudes e comportamentos quotidianos de cada indivíduo ou coletivo: estudam ou não estudam; trabalham ou não trabalham; cumprem ou não com o que lhes é exigido; esforçam-se ou não se esforçam ou limitam-se a exigir dos outros e a protestar; respeitam ou não respeitam o próximo e as leis; têm comportamentos adequados ou portam-se mal, incluindo roubar, ser parasita social ou violento; valorizam ou destroem aquilo que herdaram ou possuem; entre outras virtudes ou vícios humanos. Com a fonte do mal marxista a jorrar pela terra desde meados do século XIX, o ser humano (quase) capitulou à crença dos indivíduos fazerem revoluções ou roubarem por serem pobres, quando sempre foi e será o inverso. Quanto mais as revoluções se tornaram moda na contemporaneidade por instigação das teorias de Karl Marx, mais as sociedades e o mundo foram ficando desregulados. Em tais circunstâncias, no decurso do tempo aumenta a propensão para roubos, crimes, corrupção, abusos, repressão política, má governação. Tais manifestações desembocam necessariamente em empobrecimento, violência, caos. Além da Coreia do Norte ou da Venezuela, entre tantas outras provas factuais dos quatro cantos da terra, um continente inteiro, a África pós-colonial do último meio século, decidiu praticamente em uníssono, de governantes aos respetivos povos, ser marxista-leninista-maoísta-multicultural-globalista-progressista, em qualquer caso esquerdista. Tantas e tão diversas evidências planetárias desastrosas desfazem para sempre dúvidas do filósofo-vigarista Karl Marx ser a versão masculina atualizada das femininas Pandora e Eva.