Estamos perante a maior pandemia existente desde os primórdios da humanidade: colocou os aviões em terra e fechou as pessoas em casa, parou o mundo!

Não, não estou a falar da pandemia de Covid-19, que, até agora, de forma confirmada, afetou pouco mais de 2,5 milhões de pessoas, dos 7 mil milhões que somos, e causou a morte de cerca de 170.000.

Estou a falar do medo, esse monstro tenebroso que foi alimentado até à exaustão pelo alarmismo e disseminação do terror, numa escala sem precedentes, pelas redes sociais e pela comunicação social, cuja estratégia não olha a meios para atingir os seus fins.

O exibicionismo, apanágio das redes sociais, a pseudociência indiscriminadamente veiculada, pelos inúmeros pseudo-especialistas de tudo, que existem nestas redes, contribuíram ativamente para a situação perniciosa em que todos nos encontramos hoje.

A mesma pseudociência que no campo da medicina, instiga as pessoas a não vacinarem as suas crianças, assistindo-se ao ressurgimento de surtos de doenças potencialmente fatais que há muito se encontravam controladas, a mesma pseudociência que aconselha a suspensão de medicamentos com eficácia testada e comprovada, para serem substituídos por sumos das mais variadas substâncias e dentes de alho. A mesma pseudociência que leva utentes a exigirem aos seus médicos exames estapafúrdios e sem nexo, medição de parâmetros em análises que nem existem ou irrelevantes e com custos elevadíssimos ( sim, para que é que servem 6 anos de curso de medicina e até mais 6 anos de especialidade se quaisquer 2 linhas que se leiam na internet nos tornam especialistas em tudo!)

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Essa pseudociência, de que se vangloriam milhões de pessoas por esse mundo fora, que nunca abriram um livro ou dedicaram sequer uma hora de estudo àquilo que vêm veicular para as redes sociais, alimentou o maior monstro de que há conhecimento na história da humanidade: O MEDO.

Também a comunicação social, de forma criminosa e impune, manipulou a opinião pública, fornecendo sempre apenas uma parte da história, a que mais vendia, a que mais ganhava audiências, a mais terrível e aterradora. Metralhou a nossa casa com imagens de caixões atrás de caixões italianos, nunca explicando que tal acontecia em Itália porque todos os doentes com Covid19 eram referenciados para hospitais centrais, estando os regionais às moscas, e que não podiam ser transportados para os seus locais de origem, ficando as funerárias centrais com muito mais trabalho que o habitual, enquanto as regionais se encontravam desertas. Metralharam-nos com a gravidade da doença em 4 ou 5 países, nunca abordando as dezenas de países para quem a doença não tinha repercussões muito piores que a da gripe. Nem nunca, sequer, fizeram uma comparação séria entre os números de covid19 no nosso e noutros países e os números da gripe sazonal, quer em termos de número de indivíduos atingidos num pico de gripe, quer em número de mortos resultantes dos surtos de gripe. A mesma comunicação social que mostra as unidades de cuidados intensivos cheios de doentes no Porto, onde o surto está a ser mais grave, mas não mostra a quantidade de UCI que estão às moscas ou quase, noutras regiões do país.

Comunicação social essa, que em vez de entrevistar epidemiologistas, microbiologistas e infeciologistas, decidiu colocar nas luzes da ribalta matemáticos com modelos numéricos apocalípticos, que não têm sequer a noção de que as doenças infeciosas que se manifestam por surtos, apresentam um aumento rápido de casos, depois um planalto e por fim uma descida. Os casos não aumentam exponencialmente até ao infinito.

As frases foram sempre «já chegámos às X mortes e aos Y infetados» Nunca foram «ainda só temos estas mortes e estes infetados, quando num surto normal de gripe os números costumam ser tal e tal…».

E é assim, que neste tempo de pseudociência global, das «fake-news» e da manipulação massiva da opinião pública pela comunicação social, se instalou a pandemia do medo, a maior pandemia de que há memória.

Pandemia que atingiu 7 mil milhões de seres humanos, está a destruir, a uma velocidade alucinante, milhões de postos de trabalho, está a causar graves perturbações na saúde mental de milhões de pessoas, colocou de forma obrigatória, em habitação concomitante, agressores e vítimas, durante horas, dias, semanas, aumentando de forma dramática a violência sobre mulheres e crianças e está a alterar profundamente o normal funcionamento dos sistemas de saúde mundiais, levando a um aumento da mortalidade por muitas outras causas não Covid19.

Tudo porque alguns, ou se calhar muitos, querem ter audiências, querem ter visualizações e não olham a meios para atingirem os seus fins.

Quanto mais apocalíptica a notícia maior a audiência, quanto mais vezes repetida, maior a audiência.

Saiu-lhes o tiro pela culatra porque agora veem os seus postos de trabalho em risco, uma recessão económica provavelmente sem precedentes e da qual também vão fazer parte, o seu tempo de férias e lazer completamente ameaçado, os seus filhos em casa e uma disrupção completa da sociedade e da sua forma habitual de funcionar.

Agora pagamos todos a fatura do monstro que criámos e alimentámos, uma fatura elevadíssima, com um atingimento mais vasto do que o de uma Guerra Mundial, com a vida em suspenso, à espera…

A questão que se coloca é a seguinte: tendo as redes sociais entrado nas nossas vidas para ficar, sendo a comunicação social muitas vezes criminosa na forma como seleciona e fornece a informação, ficando muitas vezes impune e tendo como única e última intenção as audiências, quantas outras pandemias de medo se vão criar daqui para a frente, quantas mais vezes vamos assistir áquilo a que estamos a assistir agora?