Estou cada vez mais convencido que continuamos a afastarmo-nos da raiz do problema: aumentar o investimento na “prevenção”. Esta prevenção não pode apenas significar o “corte de mato” e as discussões infindáveis sobre “alturas, distâncias, datas e coimas”.

A “prevenção necessária” passa pela promoção efectiva das actividades económicas de base rural, garantindo por esta via a redução do combustível. Uma boa parte da prevenção, senão mesmo a mais importante, só será garantida se contrariarmos o abandono agrícola e florestal das nossas regiões rurais.

A abordagem económica do problema, que continua em falta, foi substituída pela resposta convencional do aumento dos subsídios ao corte de mato. Caímos no ciclo vicioso da “economia do mato”: promovemos o seu crescimento pois não invertemos o abandono das actividades rurais; e em seguida pagamos para cortar esse “mato abandonado”.

É fundamental recentrar as questões agrícolas e florestais nas pessoas, nos agricultores e nos proprietários, promovendo actividades económicas que produzam com valor acrescentado e que mantenham a qualidade dos recursos que estamos a gerir.

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Esta dificuldade em perceber a raiz do problema da prevenção, está também patente nos relatórios dos incêndios de 2017, que apesar de muito válidos e úteis para esta minha análise, centram o binómio combate vs. prevenção na “estatística da biomassa e do clima” e secundarizam o ponto fulcral do problema, as pessoas e as suas actividades económicas.

Ao mesmo tempo que nos mostram as várias faces do falhanço das políticas públicas de Desenvolvimento Rural, as suas análise e conclusões destes documentos acabam por esquecer as diferentes realidades e especificidades do abandono da actividade rural, razão principal para esse falhanço.

As questões de economia florestal são tratadas de forma simples e artificial, reduzindo-os à simples escolha da espécie, como se o rendimento resultante dessa escolha não fosse também determinante para a decisão.

A análise da questão produtiva está ainda incompleta por não considerar a vertente “organização”: continuar a afirmar que a pequena dimensão (e o cadastro) são a razão para não haver actividade económica, é não querer resolver o problema. Existem diversos modelos de organização à disposição que permitem e/ou facilitam o acesso ao mercado de agricultores/explorações com dimensão reduzida. Só precisamos de investir no seu desenvolvimento e não desenvolver novos modelos.

Fica muito claro para mim que, mesmo depois de ler os relatórios, continuamos a afastar a vertente produtiva e económica do debate e das soluções, o que significa que iremos apenas avolumar o dilema de “ter que cortar mato e não termos dinheiro para o fazer”. Constato também que o País optou por não investir na organização dos proprietários rurais e das suas actividades económicas.

Fica assim cada vez mais óbvia a necessidade em retomar a Extensão Rural como ferramenta de ordenamento do Mundo Rural, pois sem agricultura, silvicultura e pecuária o melhor Plano não passará disso mesmo … um simples Plano que apenas serve para justificar as más decisões políticas.

Técnico Florestal da CONFAGRI – Confedeação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal, CCRL