Certo dia, um corvo pousa no galho de uma árvore segurando um pedaço de queijo no bico. O cheiro delicioso do queijo atraiu uma raposa astuta que passava por perto.

A raposa, com sua mente ardilosa, viu uma oportunidade para obter aquele queijo. Ela aproximou-se da base da árvore e disse: “Oh, corvo! Que lindo canto tu tens! Tenho certeza de que a tua voz é tão melodiosa quanto a tua aparência”.

Lisonjeado com o elogio, o corvo ficou envaidecido. Ao abrir o bico para demonstrar a sua bela voz o queijo caiu no chão. A raposa, ágil como sempre, rapidamente agarrou o queijo e devorou-o, deixando o corvo frustrado e envergonhado.

A fábula da “Raposa e o Corvo” ensina-nos uma importante lição sobre vaidade, lisonja, ingenuidade, mentira e manipulação. A Raposa, habilidosa nos seus planos, usando elogios falsos e palavras doces, enganou o corvo para obter benefícios pessoais. O Corvo, levado pela vaidade e arrogância da posição de poder, cedeu àquele benefício temporário prejudicando um bem maior.

Esta podia ser mais uma fábula sem contexto particular, de um ensinamento genérico para passar uma mensagem. Mas se substituirmos alguns termos no texto original, teremos uma representação fiel da atual realidade do poder local.

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Experimentemos….

Certo dia, um político pousa numa câmara segurando um pouco de poder na mão. O cheiro delicioso do poder atraiu um influenciador astuto que passava por perto.

O influenciador, com sua mente ardilosa, viu uma oportunidade para obter aquele poder. Ele aproximou-se da câmara e disse: “Oh, político! Que habilidoso tu és! Tenho a certeza de que a tua astúcia é tão afiada quanto a tua habilidade”.

Lisonjeado com o elogio, o político ficou envaidecido. Ao abrir a mão para demonstrar a sua astúcia, o poder caiu ao chão. O influenciador, ágil como sempre, rapidamente agarrou o poder e devorou-o, deixando o corvo comprometido e envergonhado.

Na fábula, a raposa sabe que o elogio ao canto do corvo é uma maneira eficaz de obter o que deseja — o poder que o corvo possui.

E assim a história repete-se, ano após ano, município atrás de município. Desvios em benefício próprio, de recursos destinados ao desenvolvimento da comunidade, comprometendo serviços essenciais, como a saúde, educação ou infraestruturas. Uma conduta egoísta que prejudica a qualidade de vida dos cidadãos e compromete o progresso da sociedade como um todo.

A honestidade, a transparência e a integridade são virtudes que parecem hoje difíceis de preservar e valorizar no exercício da política local.

Assistimos a uma disseminação constante de informações falsas e promessas vazias que minam a confiança dos cidadãos na política local, comprometendo a legitimidade dos governantes e prejudicando o desenvolvimento da comunidade.

E não há ambiente mais fértil para a astúcia do Corvo e a mente ardilosa da Raposa que este. O ambiente que tudo permite, a troco de pouco, que captura interesses e cúpulas de decisão, que captura o poder eleito de forma legítima e democrática.

No final, o resultado está à vista. Uma descrença total nos atores políticos, nos processos eleitorais e formação de alternativas, total apatia face à normalização das raposas que, ano após ano, aparecem em maior número face aos “corvos”, que cedem à sua vaidade e egocentrismo.

Assim, é crítico e urgente combater a mentira e a corrupção, e estabelecer uma cultura de transparência e ética.

É necessário que os líderes políticos assumam uma postura de integridade, permanente e comprovável 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Os mecanismos de prestação de contas devem ser implementados e fortalecidos, permitindo que a população acompanhe e fiscalize as ações dos governantes, fomentando uma participação mais ativa da sociedade, condição essencial para uma construção de uma governança mais justa e transparente.

Somente através de uma gestão transparente e ética podemos combater essas práticas danosas, promovendo a confiança dos cidadãos e fortalecendo a integridade do poder local.