Como em tudo na vida, há duas formas de olhar para a vitória de Trump: ou se vê o copo meio vazio, ou meio cheio. Podemos focar-nos nos riscos, ou podemos olhar para os sinais positivos da sua agenda reformista, da vontade de trazer eficiência governativa e novas políticas de valorização de talentos. O que se passa nos Estados Unidos da América (EUA) pode até acabar por ser um tubo de ensaio para a Europa: aproveitar o que trouxer resultados positivos e evitar o que correr menos bem.

Entre os destaques da estratégia do presidente norte-americano eleito está a criação do Department of Government Efficiency (DOGE), liderado por Elon Musk e Vivek Ramaswamy. Este organismo tem como objetivo reduzir a despesa pública em cerca de 30%, o equivalente a cortes de dois triliões de dólares num orçamento anual de 6,75 triliões. O que até pode parecer um corte exagerado, não deixa de trazer a expectativa de ver como o vão conseguir fazer. Nesse caso os EUA passariam de uma despesa federal que representa 25% do PIB para cerca de 17% – uma realidade bem diferente da Portuguesa.

Em jeito de comparação, em 2023, as despesas públicas em Portugal atingiram cerca de 112 mil milhões de euros, o que representa cerca de 42,3% do PIB. Um peso significativamente superior e que coloca em causa a sustentabilidade económica do país, um país com uma economia muito, mas muito mais pequena do que a dos EUA.

Estas diferenças não podem ser ignoradas e este foco da nova presidência norte-americana em cortes orçamentais e na eficiência administrativa reforça a necessidade de discutirmos, em Portugal e na Europa, formas de desburocratizar processos e de repensar a estrutura do Estado. A solução não passa apenas por reduzir os custos, mas também por incentivar à transição digital, à aposta em tecnologia e à simplificação de sistemas, que poderão ser ferramentas indispensáveis para criar um setor público mais eficiente, menos burocrático, menos pesado e mais transparente.

Outro ponto importante nas propostas de Trump é a valorização do capital humano. O recém-eleito presidente dos EUA prometeu oferecer Green Cards a estudantes estrangeiros que se formem em universidades norte-americanas como forma de reter talentos para o país. Este é um contraste claro com a realidade portuguesa, onde formamos muitos quadros em universidades de qualidade para terem de emigrar à procura de melhores condições, seja por causa dos salários baixos, dos preços da habitação, ou simplesmente porque sabem não conseguem cumprir os seus sonhos aqui.

As medidas que Trump propõe não são apenas um exercício de gestão orçamental. Para Portugal e para a Europa, podem representar uma oportunidade para identificar uma forma diferente, mais eficiente e mais saudável de reformar o Estado. Esta é uma oportunidade para passar os programas eleitorais do papel para a ação, ganhando coragem para fazer aquilo que é preciso para tornar a nossa economia mais competitiva.

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