O Movimento Europa e Liberdade resolveu ouvir na sua III convenção, em Maio, várias pessoas, e entre elas os líderes dos partidos que se sentam à direita do Partido Socialista na Assembleia da República. Um deles é André Ventura. Imediatamente, a extrema-esquerda e os seus idiotas úteis, com o inevitável conselheiro Louçã à frente da banda, decretaram estarem infamados todos os que, mesmo por distração, pisarem a alcatifa ou ligarem o zoom da convenção. Estariam a “normalizar” o fascismo e não sei mais que outros nefandos ismos atribuídos, também por decreto deles, a Ventura. O primeiro convidado do MEL seleccionado para alvo dessa campanha de ódio foi o deputado do PS Sérgio Sousa Pinto.
Valerá a pena argumentar com a banda do conselheiro Louçã? Valerá a pena lembrar que debater com uma pessoa ou ouvir uma pessoa não é concordar com essa pessoa? No MEL, vão estar Rui Rio, Francisco Rodrigues dos Santos, João Cotrim de Figueiredo e André Ventura. Nem eles concordam em tudo entre si, nem todos os outros convidados concordarão em tudo com eles. Mas alguém não percebe isto?
André Ventura, à frente de um partido legal e com um deputado eleito na Assembleia da República, nada disse ou fez que justifique qualquer exclusão do debate público. Nunca pôs em causa a democracia nem declarou admiração por qualquer ditadura. Nunca recorreu ou apelou à violência. Podemos não gostar da sua insistência nos ciganos. Mas Ventura apenas exige, nesse caso, que a lei seja igual para todos. Não, não é suficiente para definir um fascista, a não ser na cabeça daqueles, como o conselheiro Louçã, para quem todos os que não pensam como eles são, só por isso, fascistas.
Tudo isto é obviamente absurdo. Porque é que aqueles que agora exigem que o MEL não ouça André Ventura e que ninguém partilhe qualquer espaço com ele, não fizeram isso mesmo quando puderam? Durante a última campanha eleitoral, João Ferreira do PCP, Marisa Matias do BE, e a candidata independente Ana Gomes estiveram em estúdio, tal como o actual presidente da república, para ouvir André Ventura e debater com ele. Podiam não o ter feito. Fizeram-no. Ana Gomes só se lembrou de pedir a ilegalização do Chega já depois das eleições. Antes disso, João Ferreira, Marisa Matias e Ana Gomes estiveram a “normalizar” André Ventura?
Como já toda a gente deve ter percebido, não é Ventura que está em causa. É o MEL, e todos aqueles que participarem na sua convenção. Ventura é apenas o pretexto ocasional. O que verdadeiramente incomoda o conselheiro Louçã e a sua banda é que haja na sociedade portuguesa quem se atreva a ter outras ideias e outras perspectivas, e que as possa expressar em público. O que verdadeiramente os irrita é o pluralismo e a liberdade. Porque o pluralismo e a liberdade foram sempre as maiores dificuldades que encontraram na sua marcha para o poder, e as primeiras coisas que eliminaram quando e onde foram eles a mandar. Já os conhecemos. Aqueles que agora exigem o cancelamento de Ventura são aqueles que em 1975 tentaram cancelar a democracia pluralista em Portugal. São aqueles que continuam a ter Cuba e a Coreia do Norte como modelos de Estado e sociedade. São aqueles que nunca ouviram falar do Gulag e que se riem do Holodomor. São aqueles que antes de chamarem “fascista” a André Ventura chamaram “fascista” a Sá Carneiro mas também a Mário Soares. São aqueles que chamam “fascistas” a todos os que não se lhes submetem, porque foi isso que aprenderam com a propaganda soviética que insistem em regurgitar.
Sim, conhecemo-los bem e também conhecemos o seu jogo. Se Sérgio Sousa Pinto tivesse cedido, teriam feito imediatamente subir ao pelourinho outro convidado do MEL, para ser assediado por sua vez até também desistir de aparecer. Se o MEL tivesse desconvidado André Ventura, teriam logo a seguir tentado que desconvidasse outros, porque a limpeza ideológica não ficaria certamente pelo líder do Chega. Sim, já sabemos como funciona a velha táctica do salame. André Ventura teria sido apenas o primeiro. Depois, seria a vez de todos os outros, um a um, para a resistência ser menor. Como é óbvio, a melhor convenção do MEL, para o conselheiro Louçã e a sua banda, seria aquela que não se realizasse.
Há virgens pudicas que atribuem a campanha contra o MEL e os seus conferencistas a um tribalismo geral, suscitado pelas redes sociais. Desculpem que não os leve a sério. São demasiado desonestos ou demasiado tímidos. A cultura de cancelamento e a ditadura do politicamente correcto não são meros atavismos da humanidade, alavancados pela internet. Não é toda a gente que nas universidades, na comunicação social ou nas redes sociais denuncia e persegue quem não emprega a palavra certa ou repete o adequado lugar comum. Não, não estou a dizer que não haja impulsos sectários por todo o lado. Mas nem todos têm o mesmo poder. Em Portugal, não é André Ventura que é conselheiro de Estado, conselheiro do Banco de Portugal, colunista de um semanário de grande circulação e comentador político de um canal televisivo. É Louçã, o conselheiro Louçã.
Os Louçãs são hoje recebidos nos salões, têm lugares nos conselhos e pregam nos estúdios. Mas é preciso fazer-lhes esta justiça: não foram eles que mudaram. Basta considerar o modo como aproveitam todas essas posições e oportunidades. Um exemplo: a campanha de ódio que o conselheiro Louçã, inventando umas quantas mentiras alarves, tentou montar contra a deputada municipal Aline de Beuvink. Quem mudou, então? Não a extrema-esquerda, mas a esquerda dita “moderada”. É essa esquerda que em Portugal, como em Espanha ou nos EUA, conta agora com os votos e com as campanhas de ódio dos extremistas para se manter no poder e intimidar os seus adversários, e por isso os promove e deixa à vontade. Não, não estamos perante um problema genérico da humanidade. Estamos perante um problema muito concreto deste Partido Socialista e de outros partidos congéneres, que deixaram de poder governar em democracia sem recorrerem à extrema-esquerda como tropa de choque. O conselheiro Louçã é a outra face de António Costa, e ambos são a cara de um regime em degradação e de uma liberdade em risco.