Traição é uma coisa muito louca. Mais louca do que a traição, só a obrigação de fidelidade que o homem criou. É imposta, não é natural, sabemos disso. Mas hoje em dia há espaço para relacionamentos abertos e tantas outras avenças que as pessoas podem optar por fazer. Mas quando um relacionamento pressupõe fidelidade, ser fiel é o mínimo que se espera.

Quase todo mundo já traiu ou foi traído. E eu não tenho absolutamente nenhum constrangimento em dizer que já fui traída no passado. Paciência, uma hora as coisas vêm à tona. Aí cabe aos traídos saírem pela porta da frente, já que quem traiu não o fez.

Escrevo isso porque percebi uma coisa muito curiosa. A raiva acaba passando, a dor acaba passando, a mágoa acaba passando. A gente chega até a ser capaz a desejar que aquele ex infiel seja feliz. É assim, segue o jogo, bola para frente. Mas acontece que a traição em si, a gente não supera. Não tem a ver com as pessoas, mas sim com o fato. Quando se é traído, nasce em nós um verdadeiro trauma, uma sequela. Não se trata da memória daquele incidente, mas de uma espécie de desconfiança eterna que passa a nos rondar.

É mais ou menos como passar mal com uma determinada comida e depois não conseguir comer aquilo outra vez. Ou como cair de uma certa escada e ter um insistente receio toda vez que descemos por ela. Como usar um sapato que faz uma bolha gigantesca no calcanhar e não ter vontade de calçá-lo nunca mais na vida.

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Ser traído gera uma eterna sensação de vulnerabilidade. Mesmo nas novas relações, fantasmas parecem continuar nos rondando. Não tem a ver com desconfiança em relação aos novos parceiros, mas com uma espécie de sombra que anda constantemente atrás de quem já descobriu o preço da falta de lealdade.

Por isso, antes de trair alguém, não pense apenas no fato em si. Nem apenas nas consequências para o relacionamento presente. Pense no que isso vai desencadear futuramente na outra pessoa. Além da dor da traição, da perda de alguém que se ama (porque sim, a gente perde alguém amado quando se descobre traído- quase como uma morte), do rompimento da relação, ficarão as sequelas.

Alguém que não era ciumento pode tornar-se extremamente possessivo depois de ser traído. Alguém que não era inseguro, pode tornar-se incapaz de acreditar em si mesmo. Alguém que não era desconfiado, pode simplesmente não conseguir confiar nos outros novamente.

Aí, quem tem a sorte de poder fazer uma terapia, ou de ter outro tipo de apoio, vai se recuperando lentamente. Outros não se recuperam nunca. Mas todos levam sequelas para o resto da vida.

Não há problema nenhum em se apaixonar por outro. Ou em morrer de tesão por outra pessoa. Terminar um relacionamento ou pedir o divórcio são recursos à disposição de todos. Digo outra vez: saia pela porta da frente. Tenha a hombridade de tomar a decisão difícil e correta. Trair é para os fracos, peitar a situação é para os fortes.