Não é fácil decidir se a culpa é do país, do regime ou dos bandos, no plural ou no singular, que tomaram conta disto na maior parte de quase meio século. A verdade é que Portugal não é respeitável. E não é respeitável na exacta medida em que, com a subserviência interessada dos empresários, a conivência pasmada dos “media” e o fascínio pelo Estado de uma curiosa “sociedade civil”, certas forças e personagens políticas beneficiam de uma impunidade que, por definição, abre as portas à prepotência, à inépcia e à corrupção.

Por cá, os governantes, principais e acessórios, não são avaliados em função do seu desempenho, mas em função da ideologia que o precede. Se calha de serem situados à “direita”, em geral por outrem e nunca pelos próprios, a avaliação é imediatamente negativa, excepto nos casos e nos momentos, não demasiado raros, em que a “direita” presta vassalagem ao adversário. Se, como é costume, são de esquerda, sucedem-se as vénias antecipadas a um “trabalho” (digamos) que invariavelmente se distinguirá pela brutal falta de juízo, rigor, decência e vergonha. E sobretudo escrutínio. À imagem das figuras dos “reality shows”, conhecidas apenas por serem conhecidas, inúmeras figuras da política caseira são, salvo seja, reverenciáveis apenas porque as consideram assim.

Para dar um mero exemplo e não sair, cruz credo, do Partido Socialista, a história do PS e dos líderes do PS é uma sucessão de prodígios cuja única fundamentação consiste no facto de se estabelecer na “opinião pública”, sem direito a grande refutação, o gabarito evidente e prévio de tais criaturas. Se esmiuçarmos as criaturas, porém, percebe-se que os motivos de tamanhos louvores são um mistério fascinante, ou uma revelação deprimente.

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