O Acidente Vascular Cerebral (AVC) é um grave problema de saúde pública entre nós, onde atinge taxas que nos colocam nos lugares cimeiros da Europa. O AVC é responsável pela maioria das mortes em Portugal (11235 em 2018), representando 9,9% da mortalidade, com uma taxa de 108,8 mortes em cada cem mil habitantes, e é, além disso, responsável pelo internamento de mais de 23 mil doentes por ano e por incapacidade permanente em 50 por cento dos sobreviventes. As consequências do AVC, muitas vezes devastadoras, incluem perda de fala, de visão, de coordenação ou de compreensão, bem como diminuição da força ou mesmo paralisia muscular nos membros superiores ou inferiores, muitas vezes na inteira metade do corpo. Além disso, 20% dos sobreviventes acaba por morrer ao fim do primeiro mês, percentagem que aumenta para 30% ao fim do primeiro ano.

Embora se possa dever a uma hemorragia, na maior parte dos casos, o AVC deve-se a uma oclusão de uma artéria responsável pela irrigação duma determinada zona do cérebro, quer pela formação de um coágulo local (“trombo”, daí a designação “trombose”), quer pelo deslocamento de um coágulo formado nas carótidas, localizadas no pescoço, ou mesmo no coração (esse coágulo designa-se por “êmbolo”). Privadas de circulação que assegura o oxigénio e nutrientes necessários para se manterem vivas, as células cerebrais irrigadas pela artéria que ocluiu morrem, com correspondente perda da função que comandavam (por exemplo, se eram relacionadas com o controlo da fala, o doente perde essa função).

É do conhecimento geral, a associação entre alguns fatores como a hipertensão, a diabetes, mas também o colesterol elevado e o tabaco, ao risco de AVC e, de facto, a elevada prevalência de hipertensão entre nós, bem como o seu incompleto controlo na maior parte dos casos, é um problema da maior importância, devendo mobilizar quer profissionais de saúde, quer a sociedade em geral (promoção de hábitos de vida saudável com destaque para a diminuição do consumo de sal). Do mesmo modo, o tratamento do colesterol elevado com dieta e fármacos, a abstenção de fumar e a prática regular de exercício, são recomendações que nunca é de mais lembrar. As artérias cerebrais, mas também as carótidas podem vir a sofrer das alterações degenerativas progressivas (aterosclerose) a que os fatores de risco se associam.

A abordagem do AVC é tipicamente multidisciplinar, envolvendo médicos emergencistas, internistas, neurologistas, imagiologistas, cardiologistas e neurorradiologistas de intervenção.

O papel dos cardiologistas no AVC passa pela identificação de causas cardíacas para a formação ou passagem de êmbolos, o acompanhamento de uma arritmia responsável por 20-30% dos AVC – a fibrilhação auricular e pelo acompanhamento dos doentes na correção dos Fatores de Risco, com destaque para a hipertensão.

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Perante os sinais suspeitos de AVC:

  • Dificuldade em falar
  • Boca ao lado
  • Falta de força num membro

Deve ligar-se de imediato o 112 de forma a ativar a via verde AVC.