Se na Bielorrússia existisse uma flautista que descobrisse a flauta mágica dos contos infantis, certamente que iria tocar uma melodia que atraísse Alexandre Lukachenko, seus sequazes e simpatizantes, dentro e fora do país, para um qualquer caixote do lixo da História. Mas não há e as flautistas verdadeiras vão para a prisão quando não querem ter um ditador como maestro.

Maria Kolesnikova e Maxim Znak, dois conhecidos dirigentes da oposição democrática bielorrussa, foram condenados a 11 e 10 anos de prisão porque, segundo a “justiça” de Lukashenko, eles participaram numa “conjura ou outras acções cometidas com o objectivo de tomada do poder de Estado”, “apelos a acções que visam causar prejuízo à segurança nacional” e “criação de uma organização extremista ou a participação nela”.

Acusações e penas deste tipo fazem lembrar os tempos tenebrosos do comunismo soviético e do nazismo alemão, em cujos tribunais se ouviam acusações semelhantes. Falta apenas a acusação da “abertura de um túnel entre Minsk e Varsóvia para permitir a invasão da Bielorrússia pelas tropas da NATO”, mas declarações deste tipo já foram feitas em abundância pelo ditador antes do julgamento destes opositores.

Maria Kolesnikova, uma flautista conhecida a nível internacional, esteve entre aqueles que, após a fraude eleitoral de agosto de 2020, que deu a vitória pela sexta vez ao pupilo de Hitler e Estaline, veio para rua exigir a anulação dos resultados e a realização de eleições transparentes e democráticas. Rapidamente se tornou numa das figuras mais icónicas da oposição bielorrussa.

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A 7 de setembro do ano passado foi raptada por “desconhecidos” no centro de Minsk, capital da Bielorrússia, e deportada para a Ucrânia, país onde não entrou porque, durante a viagem, destruiu o seu passaporte. À liberdade no estrangeiro preferiu ficar no seu país para continuar a luta contra a ditadura, sabendo que poderia ser condenada a uma longa pena de prisão.

Não é muito comum ver intérpretes de música clássica nas barricadas. Da História da Bielorrússia e da Rússia, recordo-me apenas do imortal violoncelista Mstislav Rostropovitch de kalashnikov às costas para defender a jovem democracia soviética em Agosto de 1991. Não a sabia manejar, mas fez disso um símbolo da resistência aos golpistas que tentaram derrubar Mikhail Gorbatchov.

Maria Kolesnikova explica a sua posição numa entrevista ao jornal electrónico Meduza: “Existe uma ligação completamente evidente entre o regime e até que ponto eu posso dedicar-me à cultura e a projectos internacionais no campo da arte contemporânea. Na Bielorrússia existe uma censura que não permite a nenhum músico, artista, realizador, dedicar-se àquilo que verdadeiramente quer.”

Maria e Maxim não são os únicos presos políticos. Nas prisões bielorrussas há centenas. Milhares de opositores ao regime de Lukachenko foram obrigados a refugiar-se nos países vizinhos.

Moral putinista

Mas importa sempre recordar que esta ditadura no coração da Europa só existe graças ao apoio do autocrata russo Vladimir Putin, conhecido pela sua retórica demagógica e mentirosa. Este, muito recentemente, declarou que é inaceitável a imposição à força de um Estado democrático a outros países.

“Se um povo precisa da democracia, ele vai alcançá-la, não é necessário fazer isso à força”, frisou.

Palavras sábias se não fossem apenas dedicadas ao Afeganistão, como foi o caso, mas também a países como a Moldávia, Geórgia, Ucrânia e Bielorrússia.

Como diz o ditado português: “Quem não o conhecer, que o compre”, sabedoria que abrange também as forças políticas portuguesas que apoiam regimes deste tipo. Talvez para o ano  participe na Festa de Avante uma representação dos talibãs com a sua “tasquinha”. Os traficantes de droga colombianos já lá estiveram, ou estou enganado?