O último ano na Bielorrússia ficou marcado pela prisão de centenas de pessoas e pelo assassinato de opositores ao regime ditatorial do regime de Alexandre Lukachenko. Este regime, aplaudido pelo Partido Comunista Português, subsiste apenas graças ao apoio de Vladimir Putin, fazendo o autarca russo cúmplice das violações dos direitos humanos nesse país.

Faz hoje precisamente um ano (9 de Agosto) que Lukachenko foi reeleito, pela sexta vez, presidente da Bielorrússia numas eleições viciadas e num ambiente de repressão e medo.

Ele tomou, antecipadamente, todas as medidas para garantir o “apoio da esmagadora” maioria. Ainda antes da realização do escrutínio, o ditador tentou neutralizar a oposição ao deter dois dos seus candidatos: o blogger Serguey Tikhanovskyi, acusado de “preparar ações contra a ordem pública e oferecer resistência aos agentes das autoridades, e o banqueiro Victor Babariko, por “fuga ao fisco”, “legalização de meios conseguidos por via criminosa”, etc..

A oposição bielorrussa teve de arranjar rapidamente um candidato para participar nas eleições e conseguiu fazê-lo na pessoa de Svetlana Tikhanovskaya, esposa de Serguey.

Considerando ter a vitória na mão com os anunciados 80% dos votos a seu favor, Lukachenko, que considera que na Bielorrússia ainda não chegou a hora das mulheres governarem o país, não esperava que Tikhanovskaya, que recebeu cerca de 10% dos votos, conseguisse mobilizar multidões tão numerosas de insatisfeitos com os resultados das eleições claramente viciadas. E isto aconteceu, pela primeira vez, não só em Minsk, capital do país, mas também em numerosas outras cidades bielorrussas.

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O ditador lançou a polícia contra os manifestantes, na esperança de ver a acontecer o que sucedeu em campanhas anteriores: a oposição protesta alguns dias ou semanas, mas depois ele volta a ser o senhor da população.

Todavia, desta vez, as manifestações iam ganhando força e o regime viu-se em risco de ser derrubado. Por isso, Lukachenko utilizou o mais forte dos seus trunfos: a ameaça da entrada de tropas russas na Bielorrússia.

O autocrata russo apressou-se a ir em auxílio do seu aliado bielorrusso ao ver que poderia perder um país que considera fazer parte da sua influência e ser um tampão entre a Rússia e a Polónia.

Foi precisamente este aviso do Kremlin que fez desmobilizar as forças da oposição e, vendo-se novamente senhor da situação, Lukachenko lançou uma forte campanha repressiva contra elas.

O primeiro e principal golpe foi lançado contra os órgãos de informação da oposição ou independentes. Segundo a organização não-governamental “Repórteres sem Fronteiras”, durante este ano, a polícia prendeu 500 jornalistas, 29 dos quais se encontram na prisão. A mesma organização afirmar possuir documentos de que cerca de 70 jornalistas foram vítimas de torturas e violência na prisão e que são cada vez mais pesadas as penas de prisão dadas àqueles que ousaram ou ousam criticar o ditador.

Aliás, o desvio do avião da Ryanar pelas autoridades bielorrussas com o objectivo único de prender o jornalista Roman Protasevitch demonstra muito bem até onde pode ir Lukachenko na sua política contra a oposição.

Milhares de pessoas continuam nas prisões e milhares tiveram que refugiar-se em países vizinhos membros da União Europeia como a Polónia e a Lituânia. O caso da atleta bielorussa Krystina Timanovskaya é apenas o caso mais mediático.

“Levam tudo e todos. Nas últimas semanas foram encerradas 105 organizações sociais. Estudam [as polícias] atentamente vídeos e fotos do ano passado e vão ter com quem lá esteve [nas manifestações]. Prendem pessoas simples, mas principalmente músicos, jornalistas, artistas, ou seja, pessoas conhecidas. É mais fácil detectá-las e consideram que constituem um grande perigo devido ao seu prestígio e influência”, declarou ao jornal russo “Novaya Gazeta” Serguey Budkin, dirigente do Conselho para a Cultura da Bielorrússia.

A União Europeia reagiu a esta política de Lukachenko com sanções, mas estas têm pouco efeito na economia do país, porque a Rússia paga todas essas e outras “faturas”, ao mesmo tempo que transforma o ditador num obediente vassalo. Deste modo, Putin anexa o país vizinho sem a necessidade de disparar um tiro ou de criar enclaves como na Geórgia, Moldávia e Ucrânia.

Como não podia deixar de ser, o Partido Comunista Português apoia tanto a política repressiva de Lukachenko, como a do seu chefe Vladimir Putin. Será demais esperar que os comunistas portugueses alterem a sua posição, afinal eles são “consequentes”.