Depois de 15 anos na posição confortável de oposição radical, que hoje ocupa o Chega, o Bloco de Esquerda mostrou nos seis anos de Geringonça a sua face governativa: colaboracionista com a austeridade encapotada das cativações na saúde e com gastos sem fim em empresas falidas, hipócrita na defesa de posições políticas que os seus dirigentes violam e inapto para ser um parceiro fiável de governação, mantendo-se incapaz de apresentar propostas concretas, bem orçamentadas, apoiadas em dados e assentes na evidência. Hoje, o Bloco de Esquerda é uma força de bloqueio à Liberdade.

À liberdade económica. Quando agita o papão da “borla fiscal aos ricos” em relação à proposta de IRS de taxa fixa da Iniciativa Liberal, que poria milhões de euros na carteiras de todos os portugueses – os mais pobres, a classe média, os jovens, os trabalhadores-estudantes, os precários, todos. Quando agita o papão das privatizações, que libertariam os portugueses de custos redundantes e de dívidas astronómicas de empresas e institutos para os quais o mercado já tem alternativa a menor custo e sem que se torne cada português um acionista involuntário de empresas cronicamente falidas. Quando recusa reduções de burocracia, taxas e impostos para construção de habitação, abertura de negócios de pequena e média dimensão – que são o ganha-pão da maioria dos portugueses – criando um Estado pequeno mas forte em vez dum Estado pesado, lento, omnipresente e empecilho.

À liberdade social individual. Quando propõe desde a sua criação a legalização das drogas leves apenas para ser o Estado o regulador, o vendedor, o controlador de mais um monopólio, desvirtuando o que podia ser uma política de liberalização regulada com verdadeiro potencial de combate ao tráfico de estupefacientes e ao acesso seguro a drogas leves de qualidade controlada. Quando reduz as infinitas particularidades de cada um, atribuindo-lhe um grupo social e marginalizando quem ousar não pensar como o coletivo mas como cidadão livre que é. Quando recusa a prestação de serviço público de saúde e educação pelo setor privado e social em cooperação com o Estado, essencial para garantir o acesso verdadeiramente universal a ambas e não o acesso universal a condições inferior para os trabalhadores e utentes e a listas de espera inaceitáveis para um país europeu.

À liberdade política. Quando se comporta como o partido mais desonesto e deturpador, baseando o seu confronto político na mentira e na falsificação daquelas que são as posições públicas dos seus adversários partidários.

O folhetim distribuído pelo Bloco de Esquerda no final de novembro, com um grafismo copiado a papel químico do da Iniciativa Liberal – louvor seja feito à qualidade da cópia – em que agita uma vez mais os papões liberais do fim da escola pública, das privatizações de tudo o que se mexa, das borlas aos ricos ou do fim do SNS é (além duma belíssima lisonja àquela que é a melhor comunicação política em Portugal), a admissão pública de que o Bloco de Esquerda está bloqueado.

Bloqueado numa visão de sociedade gasta e comprovadamente falhada, baseada no espezinhamento do indivíduo pelo Estado e na atribuição de liberdades por grupos e não diretamente ao cidadão – fazendo-o livre por inteiro. Bloqueado num tempo em que era hegemónico nas causas da liberdade social, entregue a si de bandeja por uma direita conservadora que nunca saiu do armário do século XX e por alguma esquerda que nunca lá chegou. Bloqueado na ideia de que o voto jovem é seu por direito, que se convenceu que pode enganar tudo e todos eternamente. Bloqueado sem reação ao advento dum partido de e da Liberdade, não por partes, não só a que gosta, mas toda a Liberdade – a Iniciativa Liberal. Para mal dos pecados do Bloco – e não os faltam – o futuro é Liberal. E o tempo não volta para trás.

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