Desde o cumprimento do compromisso da Comissão Executiva da Iniciativa Liberal  perante os seus membros da recusa de coligações pré-eleitorais em todas as eleições —  pelo menos até janeiro de 2025 — que se têm multiplicado tentativas de culpabilização  precoce da IL por uma putativa derrota da Aliança Democrática nas urnas e de crítica  severa à “intransigência” do liberais.

É sabido que a forma de estar e de ser da Iniciativa Liberal e dos Liberais no panorama  político-partidário português não agrada aos que se consideram os legítimos e  insubstituíveis donos do sistema — desde o PS, ao PSD e ao Chega, a recente esponja do  mais ignóbil e repugnante que o status quo tem para oferecer — porque não se rege pela  dicotomia preguiçosa bipolar direita vs esquerda, porque não se subjuga ao  incumprimento dos acordos firmados com parceiros maioritários, nem se rege pelas  mesmas bitolas dos jogos de poder de bastidores que desconsideram os compromissos  para com os membros dos seus partidos.

Por esta mesma razão, a Iniciativa Liberal tem sido o alvo político eleito por diversos  agentes partidários, por diferentes razões. Pelo CDS-PP, porque a IL consegue afirmar se no seu próprio espaço, de forma irreverente e inovadora, sem ser a moleta amorfa  dum partido catch-all, no qual se dilui por mero instinto básico de sobrevivência. Pelo  Bloco de Esquerda, porque a IL representa a maior ameaça que o partido já sentiu ao  seu eleitorado tipicamente jovem, educado e urbano, e preenche um espaço que a direita  portuguesa abandonou: a defesa dos direitos sociais numa ótica individual mas ativa e  apaixonada, rejeitando visões bafientas e ultrapassadas sobre a sociedade. Pelo Chega,  porque a IL é efetivamente liberal, não só em questões sociais mas também (e  sobretudo) mas questões económicas e não se comporta como um cata-vento partidário  atrás das causas populista do momento. Pelo PS, porque representa a verdadeira ameaça  para a hegemonia do poder dos socialistas sobre a economia, a política e a sociedade no  médio prazo, para um partido que não consegue falar para os jovens e se centra num  conjunto de públicos que considera seus por direito — funcionários públicos,  pensionistas, reformados e a grande granja dos conformados.

Até 10 de março, os fantasmas criados em redor da IL serão insuflados por todos estes  agentes e tantos mais. As falácias da destruição do Estado Social, da privatização do  SNS e da escola pública, do benefício dos ricos e dos grandes negócios, da ideologia de  género e wokismos, etc. E expectável será também a mais velha das tentativas de  manipulação eleitoral: o fantasma do “voto útil”.

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Mas o que é, afinal, um voto útil?

Será um voto útil apenas aquele que contribui para eleger um deputado? É uma  definição bastante atraente, nem que seja porque o objetivo final óbvio dum ato eleitoral  numa democracia representativa é eleger representantes através do voto. Mas será  verdadeiramente útil um voto que se soma para eleger um deputado dum partido ou  duma coligação cujo projeto não nos diz nada apenas com o objetivo de antagonizar um  projeto que recusamos ainda mais? Será mesmo útil o voto que elege um deputado que  não tem genuíno interesse pelo território que o elege, que não se preocupa pelos  eleitores senão nas antecâmaras das urnas e até resfriar o momento eleitoral? Será útil  um voto que é deitado ao lixo por quem o ganhou?

Votei em 2015 numa Legislativas nas quais não tinha ninguém que me quisesse  representar, um espaço órfão de defesa da “liberdade em toda a linha”. Posso ter votado  útil nessas eleições, mas não me senti representado numa defesa frouxa da liberdade  económica e numa incapacidade de se transportar para o século XXI nas liberdades  sociais. Vorei em 2019 e 2022, num círculo sem qualquer prespetiva realista de eleição  dum deputado liberal. Mas senti que o meu voto foi verdadeiramente útil.

Posso até hoje não ter contribuído diretamente para a eleição dum deputado liberal, mas  o meu voto em 2019 e 2022 (e, em breve, em 2024) sempre deu força ao projeto que me  representa. Que se preocupa com o presente e o futuro dos portugueses que estão, que foram e que vêm. Que ocupa um espaço que ninguém queria representar, e que tem na  liberdade o expoente máximo da sua aspiração. Um voto putativamente inútil para  eleger deputados é tão útil quanto os outros no reforço dos projetos políticos que nos  representam.

Recusemos a cedência à chantagem emocional e à manipulação política de PS, PSD (e,  mais recentemente, do Chega) para assinar de cruz um voto útil que se inutiliza no  primeiro dia após a eleição.

Em 2019, 2022 e 2024 estive convicto de quem me é útil e quem me representa. Quem  dá voz a uma geração abandonada pelo falso centrão, usada por populistas identitários e  exaltada por extremistas e radicais. Manter a verticalidade vertebral na defesa do que é  incompreendido por tantos, insuficiente para alguns e insubstituível para muitos é difícil  e custa. A cedência aos egos pessoais, às pessoas acima das ideias, aos projetos de poder  acima dos projetos de mudança é grande. Mas só cede quem não sabem quem é, ao que  vem, que valores sente no âmago de si mesmo, ou quem não os tem de todo.

A 10 de março Portugal pode começar a mudar. E o único voto útIL para o conseguir é  Liberal.