O saldo da eleição presidencial no Brasil aí está: Lula (L) – 50,90%, Bolsonaro (B) – 49,01%. Tratou-se de um empate técnico onde o mais votado é sempre o vencedor e apto para tomar posse. Foi, no entanto, estranho que Bolsonaro, demorasse 49 horas para se pronunciar sobre o resultado eleitoral, dando assim tempo para os bloqueios de cerca de 200 estradas por camionistas, gerando problemas de distribuição de bens e espalhando caos em prejuízo do trânsito rodoviário. Neste ínterim, caso fosse recebido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), viabilizaria a legitimação do protesto arruaceiro, daí provocando a intervenção das Forças Armadas para pôr ordem no país, – tudo isto numa tentativa para impedir a futura posse do candidato vencedor.

Quatro foram os fatores que neutralizaram a tentativa de transformar o caso brasileiro em algo que se assemelhasse à Trumpecização ou ao Estado militarizado de Myanmar. Em 1º lugar, a força dos manifestantes do Lula, em 2º, a judiciosa posição do STF em não receber o Presidente Bolsonaro antes de ele se manifestar publicamente face ao resultado eleitoral, bem como a ratificação da ordem dada à Polícia Rodoviária Federal (PRF) para desbloquear as estradas e em 3º, o apoio das potências mundiais à eleição do Lula, nomeadamente dos EUA, Reino Unido, França, Rússia, Alemanha, China e Índia, e em 4º, não menos importante, o empenho dos responsáveis políticos do país para oficializar politicamente o resultado eleitoral. É assim que se explica o tardio apelo de Bolsonaro para o desbloqueio das estradas.

Nesta eleição, apenas 1,8% de votos separa os dois candidatos representando programas socio-económicos distintos. Não parece, no entanto, que tal represente um fracionamento da sociedade brasileira. A ajuizar pelas imagens da TV e dos jornais, não deixa de ser estranho que votantes que nada tem a ver com os valores do grande empresariado votassem contra os seus próprios interesses, nomeadamente clamando pela intervenção das Forças Armadas para impedir a tomada de posse do candidato eleito.

Resta-nos confiar que o futuro governo do Brasil alcance as metas democráticas que se propôs, pondo termo, além do mais, ao racismo oculto e atingindo as metas de uma sociedade economicamente mais justa.

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