Teve lugar na semana passada, em Câmara de Lobos, na Madeira, a 2ª edição anual das Conferências do Atlântico, desta vez sob o título global Winston Churchill, The Freedom of the Sea and the Atlantic Charter. Foi uma enfática celebração da tradição democrática e liberal da Aliança Euro-Atlântica – por outras palavras, do Mundo Livre que nasceu e cresceu com base no diálogo plural entre Atenas, Roma e Jeruslalém, aberto ao diálogo crítico com outras tradições. Foi desse diálogo plural que nasceu a ideia de Universidade que ainda hoje celebramos no Mundo Livre.
Randolph Churchill — bisneto de Winston Churchill e presidente da International Churchill Society – sublinhou isso mesmo na sua comunicação de abertura, Winston Churchill, The Freedom of the Sea and the Atlantic Charter, que deu o título global à Conferência.
Esta mesma disposição marítima e democrática foi sublinhada pelas comunicações de James Muller, Chairman dos Academic Advisors da International Churchill Society; por Allen Packwood, director do Churchill Archive no Churchill College, Cambridge; bem como por Edwaurd Godfrey, presidente da British Historical Society of Portugal.
Também José Manuel Durão Barroso — diretor do Centro de Estudos Europeus do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica, que enviou uma mensagem vídeo à Conferência – sublinhou esta dimensão euro-atlantista. Recordou enfaticamente que Churchill tinha sido um inequívoco defensor da criação da Comunidade Económica Europeia e que chegou mesmo a defender (num célebre discurso em Zurique) a criação dos “Estados Unidos da Europa”.
Por outras palavras, as Conferências do Atlântico na Madeira foram uma celebração da Ideia de Universidade e da democracia liberal, europeísta e atlantista, contra os seus inimigos – os fundamentalismos de sinal contrário que alimentam ódios tribais, incapazes de aceitar e apreciar o pluralismo civilizado entre propostas e partidos rivais, com crucial expressão em Parlamentos livremente eleitos.
Esses fundamentalismos têm hoje expressão crescente no seio das próprias democracias liberais. Mas são sobretudo corporizados pelo eixo Irão-Rússia-China, como foi repetidamente sublinhado na Conferência do Atlântico.
A Conferência do Atlântico na Madeira foi ainda ocasião para celebrar inúmeros aniversários liberais-democráticos: os 150 anos do nascimento de Winston Churchill; os 100 anos do nascimento de Mário Soares e de Maria Barroso; os 75 anos da fundação da NATO; os 50 anos do 25 de Abril em Portugal, que inaugurou a célebre Terceira Vaga de democratização à escala mundial – a qual, por sua vez, levou à queda do Muro de Berlim e à transição à democracia da Europa Central e de Leste, contra o imperialismo comunista soviético.
Sobre “Portugal, a Madeira e o Euro-Atlântico”, um estimulante painel reuniu o presidente do IPMA, José Guerreiro, o vice-presidente da Sociedade de Desenvolvimento da Madeira, Filipe Teixeira, e Sónia Ribeiro, investigadora do IPMA e do IEP-UCP. Ao longo de todos os painéis, foi recordado o papel crucial de Portugal na expansão da dimensão marítima da civilização europeia. Como escreveu o célebre historiador norte-americano Daniel Boorstin, que dirigiu a Biblioteca do Congresso em Washington:
“A nova era marítima, inaugurada pelos Portugueses, levou o comércio e a civilização da costa de um corpo finito, o Mediterrâneo fechado, o “mar-no-meio-da-terra” para a costa do Atlântico aberto e dos oceanos sem fronteiras no Mundo”. (David Boorstin, Os Descobridores, Gradiva, 1998, p. 153).