O historiador Harari explica algo que se aplica ao governo atual de Portugal: desde poderosos primitivos a recentes como Ceaușescu ou Kim Jong-un que há falsas sacerdotisas pregando ficções religiosas encomendadas para legitimarem a cleptocracia, nepotismo, má governação e maus resultados.

Não é suposto ninguém da sociedade civil portuguesa, mesmo peritos mundiais nas matérias, questionarem homilias dominicais do poder nos telejornais tradicionais das 20 horas. Se isso acontece, vestais semioficiais, claras, mas escuras na atuação, atacam dizendo tudo e o seu contrário contra mentes inquietas que ousarem espicaçar o status quo que nos pôs em último lugar econômico da UE.

Provavelmente, se houver vacina da Covid-19 ela virá de Oxford; mas para propagandistas claras, claro, Costa em Lisboa é que é esperto. Passaram a semana anterior, literalmente, a comentar só o burro e o Cigano. Entretanto às escuras e sem auditoria, foram mais 850 milhões € dos contribuintes para o BES.

Para comentadoras claras às escuras tradicionais de Lisboa, os reformistas com verdades terapêuticas para curar as falsidades do regime sem visão e cada vez menos credível, são todos maus quer vindos de Oxford e Harvard quer de Penamacor e da Caldas. Elas escarnecem reformistas que contradigam o poder, por terem muito mundo e cursos, mas já insultaram outros reformistas pelas razões opostas: terem, para elas, pouco mundo e cursos. Em que ficamos? Para propagandistas nos jornais tradicionais, bons mesmo só políticos lisboetas do costume sem reformas. A esses ineficientes, ou pior, que nos impõem sempre cada vez maior dívida pública e carga fiscal, mas não nos protegem adequadamente de vírus ou fogos, as vestais semioficiais não insultam; servem e elogiam há décadas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Para que no meio da enorme abstenção de Portugueses que já não se deixam iludir por ministros jotas sem quaisquer competências profissionais e resultados longínquos do topo europeu, haja uma população cada vez mais reduzida que ainda vá votando por acreditar em falsos milagres, estes tem de ser legitimados por tais sacerdotisas semioficiais. Clara é ilustração grotesca dos propagandistas do luso-establishment político, para disfarçar fingindo-se, às vezes, indignados e na ideologia sempre mascarados de diversificados.

Desde o Francisco ou Daniel da esquerda sardinha ao Luís ou António da direita robalo, são todos selecionados é por conviverem alinhados numa única ideologia prática: manutenção inquestionada do pântano dos interesses arruinadores dos Portugueses; censura dura e impiedosa à sociedade civil questionadora. Enchem e desperdiçam o espaço mediático com banalidades sobre tudo de Bolsonaro a Trump, menos do que cá interessa debater e reformar. Nas presidências francesas horrorizaram-se com o nepotismo de Fillon que nem era presidente, mas cá agora não se passa nada com as dezenas de contratos do estado com o irmão do presidente e o marido da ministra, nem com empregos e bónus do estado para mulheres dos ministros jotas. Aliás, o presidente afirma que “os portugueses devemos todo muito à família espírito santo” e também não se passa nada, claro, para os claros propagandistas.

Tais habituais comentadores andam há décadas a propagandear o regime vindo das jotas, sem qualquer contraditório substancial à propaganda oficial e seus interesses. No eixo da TV doente há mal encenado simulacro de debate: O pântano falante; a sociedade civil inteligente pagante silenciada. Clara é, talvez e simplesmente, mais uma idiota útil para o partido invisível dos negócios misturados com política que nos arruína. Se fosse crítica e culta, a república dos falsos milagres não a colocava em tantos púlpitos mediáticos, mesmo que estejamos fartos desde crianças de a ver perpetuar os eternos políticos pantanosos residentes como Ferro ou o/a Vieira da Silva, já na segunda geração na governação.

Ao contrário de Sócrates (o Grego, já que o Português ela tanto elogiou enquanto ele tinha poder), Clara só sabe que sabe tudo. Ridiculamente, acha que sabe tudo só porque leu “Em busca do tempo perdido” e conheceu um presidente fixe. Ora este autor aos 8 anos também já tinha lido Proust e convivido com Soares, em galerias de arte. Depois de criança, trabalhou desde Bona a Brasília, passando por Washington D.C. Tirou graus académicos de Singapura à França, passando pela China. Em adultos, quanto mais aprendemos, mais temos consciência do que não sabemos; certezas só que do debate e contraditório nasce a Luz. No entanto, Clara, ainda sabe tudo contra quem ousa questionar o poder.

Infantilmente, estes comentadores fãs da classe política dependente de Lisboa, “sabiam” e não se cansavam de o dizer, que um raro honesto político, Antonio José Seguro era um saloio sem mundo, indigno de ser primeiro ministro. Crónicas escuras de Clara fossem sobre que tópico, de literatura a vernissages, concluíam sempre que Seguro era fraco. Tanta insistência e harmonia nessa mensagem fixa dum coro coordenado de outras vespas de Aristófanes, bem sincronizado na TV doente, era intrigante.

Escuramente, as claras comentadoras, esconderam, no vespeiro de propagandistas pró Costa, a força de Seguro não estar rodeado dos jotas políticos do costume de meia idade dependentes da política como o seu opositor no partido estava e que já nos tinham levado à bancarrota. Seguro queria mudar e reformar a política. Tinha, pois, com ele profissionais qualificados e voluntários, financeiramente independentes da política ou do estado: Médicos e técnicos que trabalharam no Dubai, Coreia do Sul ou Holanda. Quadros portugueses vindos das mais bem-sucedidas multinacionais Americanas. Vários com Seguro formados nas universidades que Clara agora, de repente, desvaloriza apesar do gigantesco número de prémios Nobel e avanços para a humanidade como Harvard, Oxford ou Cambridge.

As superficiais claras em Lisboa não conseguiam (ou não queriam) perceber que sendo integro como os Beirões são, Seguro era dos melhores produtos do nosso Portugal profundo; um dos raros verdadeiros milagres da política portuguesa. Sendo formado nos jotas tinha tido a coragem de, vindo de tão podre sistema, combatê-lo por dentro. Foi o primeiro patriota em posição de poder vir a ser primeiro ministro a denunciar que havia um partido invisível que misturava negócios com política, e que era isso que arruinava Portugal. Uma entidade invisível que, por exemplo, só no ultimo par de décadas, conseguiu esbanjar 20 mil milhões de euros do orçamento de estado pago pelos contribuintes Portugueses para credito bancário malparado injustificado e nunca recuperado de amigos e patrocinadores de políticos.

Claros propagandistas do tudo na mesma tanto difamaram Seguro – e os que com ele estávamos – que fizeram Portugal desperdiçar a oportunidade única de se reformar o Estado. Asseguraram assim novo retorno do pântano irreformável por já mais de meia década de negócios, dívida bruta e impostos a aumentarem. Uma vez os reformistas golpeados logo reformas abandonadas, voltou, mais forte que nunca, a festa esbanjadora do partido invisível dos negócios misturados com política. Para quê pôr a população a escolher os seus deputados em primarias e ciclos unipessoais como os reformistas e a sociedade civil ambicionamos? Claras a operar no escuro contribuíram para eleger novo velho chefe do partido, a nomear, como dantes e sem qualquer escrutínio público, deputados de escritórios de advogados lobistas. O que resta do povo que vota só assina de cruz. Negócios misturados com política sobrepostos ao mérito e resultados. Agora que nova bancarrota pode vir, não se aprendeu nada com a anterior.

Os claros propagandistas nada jornalistas, contribuem para o ressurgimento do status quo terceiro mundista nepotista e tribalista. Mais do mesmo de bancarrota em bancarrota de mão pedinte estendida para a Europa seja por subprime seja por Covid. Maior Governo de sempre, marido e mulher, pai e filha, secretários de Estado inqualificados ética e tecnicamente para as suas pastas, a fazer negócios como 350 milhões de euros do lítio nosso, de milhões portugueses nascidos e por nascer, cedidos por 35 anos a uma empresa de dois dias de um amigo daquele que Clara e restante vespeiro de comentadores tanto labutaram para que fosse primeiro ministro. O poucochinho Costa da proteção civil por boys padeiros, negócios do SIRESP dos 500 milhões de euros evaporados, ou “inexplicáveis” (tribunal de contas) helicópteros Kamovs raramente voados, deixando, tudo junto, 100 mortos e maior área ardida que a da Europa toda junta em 2017.

Os mesmos políticos em Lisboa que encomendaram desde aí, para esconderem tamanha incompetência, falsamente propagandear a economia como austeridade acabada e grande milagre ronaldiano. Na realidade, no tempo até Fevereiro de 2020 de conjuntura internacional favorável de juros baixos e turismo abundante, excepto cosméticas cativações sobretudo na saúde, não aproveitaram para fazer uma única reforma do estado ou pôr fim a negócios políticos. Algo que nos tivesse deixados preparados financeiramente para esta nova conjetura internacional económica dramática deflagrada pela Covid-19, como estão a Holanda, Áustria ou Finlândia da nossa ordem de dimensão.

Governo que levou semanas a mais que tantos países e que a nossa sociedade civil a perceber a gravidade da pandemia e a pôr em quarentena os aeroportos. Os Portugueses, bem, protegeram-se rápida e decisivamente auto-isolando-se e fechando faculdades, antes do lento e obeso maior Governo de sempre. Se fosse pelos Portugueses, incluindo os valentes profissionais de saúde, não tínhamos chegado a tantos mortos por milhão como infelizmente houve por lentidão política no princípio. Se há milagre é em países como a Grécia com 900 mortos a menos. Mesmo se na segunda vaga morrerem mais pessoas aí, na República Checa e na maioria dos países do mundo com menos óbitos per capita que Portugal, durante mais meses houve milhares de netos a mais com os avós vivos lá, não cá infelizmente.

Perante estes factos, duas hipóteses são possíveis sobre propagandistas do poder. A primeira é a mais benigna: Claras sem clarividência. Como os miúdos pequenos deste autor exilado aqui em Oxford costumam dizer “quem diz é que é.” A criatura parola e saloia sem mundo que Clara dizia que Seguro era, afinal é ela própria. Cria mesmo que o regresso de Santos Silva, Silva Pereira, João Galamba e todos os restantes Jotas de Costa seria ótimo, mais uma vez, para o país. Clara continua a crer em 2020 como em 2014 em não questionar tal poder e que vá de retro quem de Oxford ou Penamacor o fizer.

Outra hipótese mais escura para tais comentadores é que claramente estavam e estão bem informados, mas que ao difamarem reformistas estão activa em vez de passivamente ao serviço do pântano, vá-se lá saber porquê. O mais provável em Portugal é que tenha a ver com fundos do estado. A sociedade civil e políticos íntegros e reformistas são criteriosos com fundos públicos e rejeitam gastar o dinheiro dos contribuintes em projetos sem retorno para a sociedade. Políticos sem escrúpulos, como o atual primeiro ministro, distribuem o dinheiro público nos jornais dos fazedores de opinião há décadas, falindo a capital e país, mas sempre louvados por quem beneficiam. Por exemplo, os 15 milhões de euros dos contribuintes que ai vêm de novo em anúncios pagos pelo estado na comunicação social, desta vez e nesta crise especifica até poderão ser mesmo necessários, mas não serão de certo, como nunca foram, anúncios a alertar contra a corrupção, negócios misturados com política, ou contra propaganda. Apenas como sempre mais anúncios para causas mais fofinhas e politicamente corretas em que o governo fique sempre bem na fotografia da imprensa que subsidia. Sem independência financeira não há independência jornalística noticiosa e factual.

As ações têm consequências. Portugal tem potencial para ser um dos mais ricos países do mundo. Se permanece afundado há décadas nos últimos lugares económico-financeiros da Europa não é por obra do divino espírito santo, mas do partido igualmente invisível, embora mais salgado. Na História, liderámos a conquista global à frente da Holanda. Hoje, temos políticos a fazerem birra de pedintes, humilhados sempre que precisam do bem gerido dinheiro dos contribuintes Holandeses. Com o nosso clima e povo ainda hoje tão bem-sucedido pelo mundo, podíamos ser a Califórnia da Europa se governados com ética e técnica. Infelizmente, segundo o Eurostat, na União Europeia somos o 21º país com menos poder de compra, o 3º mais endividado e o 2º com mais emigração liquida.

Esta é a triste realidade dos factos. Ela é ocultada pela ilusão propagandeada quase-religiosamente que vivemos de milagre em milagre, das finanças à saúde. Até quando vão abusar da nossa paciência as pitonisas do sistema decadente? Mais décadas nos media mainstream só com asfixiante propaganda, onde não se respiram vozes contra-a-corrente? Assim, sem debate nem luz, continuaremos um dos países europeus mais pobres até morrermos. No entanto, se não formos em cantigas claras escuras e pusermos na reforma finalmente pequeninos comentadores, poderemos então reformar o estado. E a partir daí ir tão longe como os nossos antepassados foram com verdades, ética e técnica. O Infante D. Henrique, Gama, Dias e Cão, não propagandeavam que eram os maiores da Europa, eram mesmo!

Pedro Caetano é MPH (Harvard), PgDip (Oxford), PC (London), MS (Michigan), PharmD (Ohio State), MBA (ESSEC), MBA (Mannheim), PhD (Michigan), AA (Cincinnati), Lic. (Lisboa); Ex-Professor de Farmacologia e Epidemiologia na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. Atual Director Global na Industria Farmacêutica baseado no condado de Oxford, Reino Unido.