“(…) Peço-lhe: escreva aquilo em que acredita e nunca aquilo que lhe dará likes e views. Se há coisa importante nesta vida é termos coisas nossas. (…)”

Prometo, respondi. O tempo tem-se certificado de que o que me ensinaram, a educação e a vida, não fica apenas gravado num qualquer compêndio de boas práticas. Sei que o pensamento, a ação e o coração, como refere, são nossos e se permitirmos que os moldem à mercê de crenças, valores e perspetivas alheias, perdemos tudo. Perdemos a autenticidade e a integridade que nos torna únicos.

Não é um exercício fácil. Been there por altura do meu primeiro blog. O peso de decifrar o que prenderia as pessoas aos meus escritos vs. a vontade de não pensar nisso, e de escrever. Só. Até ao dia em que senti que o ganho que retirava do prazer da escrita, o qual me acompanha desde menina, era só o que precisava. Uma das minhas coisas.

Mas a verdade é que a validação externa, que nos acompanha desde tenra idade, tem ganho uma importância cada vez mais inebriante.

É manipuladora, tentadora, fácil, viciante até. É uma droga invisível. Faz de nós dependentes emocionais de opiniões, julgamentos e sentenças muitas vezes até de quem nem conhecemos. Contabilizam-se seguidores, visualizações, partilhas, e redirecionam-se comportamentos à luz desse semáforo. Despem-se personalidades e criam-se personagens virtuais sob a égide da “marca pessoal”. Multifacetados, dirão alguns. Demais, respondo eu. Semelhança com o jogo do quem é quem será pura ficção?

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A droga que nos tolda o pensamento e a ação. E nos leva as nossas coisas. As de maior valor.

Há pouco tempo reparei que uma amiga, zeladora da sobriedade da sua imagem, estava a “aparecer” muito no Linkedin. Liguei-lhe para brincar com ela e ofereceu-me um conformado “comes with the job”. Ao que parece a empresa para a qual se mudou recentemente insiste para que invista nesta rede, e assim tem feito. Perdeu uma das coisas dela, até ao dia em que se revolte com o não estar a viver de acordo com aquilo em que acredita.

Às vezes dou por mim a pensar que não sei o que custa mais: se viver constantemente à procura de anuência anónima, se fazer um caminho guiado pela nossa bússola interior. Para ser politicamente correta e ganhar com isso um acréscimo de partilhas deste artigo (?) talvez devesse escrever que no equilíbrio está a virtude, mas na realidade essa não é a minha verdade.

Isso de agradar a todos não existe, e quem o faz perde permanentemente algo de seu pelo caminho. O pior é que na maioria das vezes o padrão repete-se, e a favor de determinado objetivo lá se vai abdicando de mais qualquer coisa, pode ser de uma opinião, de um sentimento, de uma posição… até ao dia em que somos apenas mais um. Igual a tantos outros, a cantar na língua que mais vende, a pintar o que o mercado compra, a declamar os versos mais ouvidos, a escrever o que esperam que se escreva…. É só mais uma vez, diz o diabo, cuidado com as tuas escolhas, repara o anjo.

Resistir à pressão da conformidade e elevar a nossa própria voz autêntica é arriscado, mas se não for para isso, de que vale a nossa arte?

A pessoa que me fez o pedido inicial que convosco partilhei não é consensual. É alguém muito admirado por muitas pessoas pelo seu intelecto, tenacidade, capacidade de trabalho e de se manter atual, entre outros atributos. Marcou de forma positiva a vida de muitos estudantes. Irreverente e com uma pedagogia própria, é um Professor de mão cheia. Se podia ser diferente? Podia. Mas certamente teria perdido algumas das suas coisas pelo caminho, o que o teria empobrecido como pessoa e profissional. Não segue tendências, cria. Não parafraseia, escreve. Não lhe conheço outras engenhos, mas tendo-os certamente que serão, também, divulgados a seu gosto.

Dedicado a JCC