1 Na semana passada, António Costa deu uma entrevista ao Financial Times que lhe correu mal. Na melhor das interpretações, mostrou cepticismo em relação à adesão da Ucrânia à União Europeia. Na pior das leituras, pareceu ser contra a entrada da Ucrânia na UE.
A entrevista foi publicada na passada terça feira. Na quinta feira, Macron, Scholz e Draghi foram a Kiev apoiar a entrada da Ucrânia na UE. O Chanceler alemão fez uma afirmação que poderá ficar na História: “a Ucrânia faz parte da família europeia.” Dois dias depois da entrevista de Costa, os principais líderes da UE desmentiram Costa. Um desastre para quem quer ser o próximo Presidente do Conselho Europeu.
Costa foi inábil a ler a direção da política europeia, e seguiu o erro cometido por Macron, que também havia manifestado dúvidas sobre a adesão da Ucrânia. O PM percebeu rapidamente o erro, o qual poderá ser fatal para as suas ambições, e tentou corrigir o lapso cometido em Londres. Por isso, ontem afirmou que apoia sem qualquer dúvida a adesão da Ucrânia à UE, tendo mesmo falado ao telefone com Zelensky. Não sabemos se Costa será perdoado pelos seus pares do Conselho Europeu. Mas já não temos dúvidas que Costa quer ir para Bruxelas em 2024. Caso contrário, não teria sido tão rápido a tentar corrigir o erro.
2 As eleições legislativas em França enfraqueceram Macron. Perdeu a maioria absoluta e os partidos radicais aumentaram a sua representação no Parlamento. Não será fácil, para Macron, construir uma maioria parlamentar. Os ares dos tempos em França são mais favoráveis aos radicalismos do que a coligações inesperadas.
Macron tentará uma coligação com os antigos Gaullistas, os Republicanos (o que seria a melhor solução), mas será dificil. O partido de centro direita está a lutar pela sua sobrevivência e uma coligação com Macron poderia ser fatal.
A aliança das esquerdas radicais, liderada por Melenchon, ficou em segundo lugar nas eleições, mas sem poder irá dividir-se em grupos parlamentares diferentes. O que significa que o partido de Marine Le Pen será na realidade o segundo maior grupo parlamentar, o que aumenta a pressão política sobre os Republicanos para se manterem na oposição, condenando Macron a governar em minoria.
3 Em Espanha, o PP ganhou a terceira eleição regional seguida. Conquistou a maioria absoluta na Andaluzia, tradicionalmente uma região de maiorias socialistas, depois de ter vencido em Madrid e em Castilla-Leon (onde governa em coligação com o Vox).
Apesar dos factores especificamente locais, sempre importantes, o PSD pode retirar uma lição da vitória do PP: é possível, e necessário, fazer uma oposição firme ao socialismo e construir uma alternativa política, sem cair num discurso populista e demagógico.