A polémica instalou-se na comunidade em geral sobre se as crianças na faixa etária dos 12 aos 15 anos deveriam ser vacinadas já, em vez de apenas os adolescentes que apresentam comorbilidades. E sobre esta última indicação ninguém tem dúvidas que é pertinente receberem o quanto antes a vacinação completa.

Em relação ao restante grupo de jovens sabemos nós que o risco de adquirir a infeção é pequeno e quando então infetados, os sintomas são ligeiros, comparativamente aos que surgem nos adultos.

Mas o mais importante é irmos aos factos para podermos concluir o que quer que seja.

Os dados que se seguem foram retirados dos sites UpToDate e Medscape, plataformas amplamente reconhecidas pela comunidade científica.

O risco de MIS-C, síndrome inflamatória multissistémica na criança, é de 1 para cada 1000 jovens, principalmente na faixa etária dos 6 aos 14 anos, com a média de idade de infeção aos 10 anos.

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Esta complicação grave da infeção por Covid-19 tem um risco reduzido de aparecimento em crianças com menos de 6 anos. Por isso, a vacinação para estas crianças é discutível.

O prognóstico do MIS-C é incerto, pois os dados de seguimento a longo prazo são limitados. A taxa de mortalidade é de aproximadamente 1% a 2%, embora entre 10% a 30 % apresentem marcadores cardíacos elevados durante o internamento. A maioria de crianças com envolvimento cardíaco recupera clinicamente à data da alta hospitalar.

A variante delta tem um grau de contágio igual ao da varicela. Atualmente, é predominante em quase todos os países e regiões.

A vacinação serve precisamente para evitar, com grande probalidade de sucesso, a infeção por Covid-19 e, consequentemente, a evolução da doença para a sua forma mais grave na criança, a MIS-C, que pode ser fatal.

Os últimos dados de junho de 2021 sobre miocardite e pericardite após vacinação de mRNA de Covid-19 sugerem que a taxa observada em indivíduos com idades entre 12 e 39 anos é maior do que a taxa basal esperada. A maioria dos casos notificados ocorreu no género masculino após uma semana de vacinação, com maior incidência aquando da segunda dose. Os sintomas em quase todos os casos foram leves e obtiveram boa resposta após tratamento médico. Os benefícios das vacinas de mRNA superam este potencial risco.

As vacinas da Pfizer e Moderna já foram aplicadas em milhões de adolescentes. Ambas foram aprovadas pela FDA e EMA, as agências do medicamento dos Estados Unidos e da Europa, respectivamente.

Os adolescentes com 16 e 17 anos estão a ser vacinados em Portugal.

As idades anteriores a estes dois grupos, apresentam o risco maior de evoluírem para MIS-C. E por este motivo também devem usufruir dos mesmos direitos – ser vacinados.

Se a MIS-C causa mortalidade em crianças e adolescentes dos 6 aos 14 anos e existe forma de a prevenir se forem vacinadas, é imperativo vacinar!

A medicina preventiva é universal e não selectiva. Vacinando apenas doentes com comorbilidades, estamos apenas a ser seletivos, não oferecendo as mesmas possibilidades de evitar a doença a outros jovens.

Qualquer cidadão tem o direito de acesso à saúde bem como de usufruir dos mesmos tratamentos. Os riscos dos efeitos secundários da vacina também existem nos doentes com comorbilidades, mas como os benefícios são superiores, a vacinação é indicada.

Podem afirmar que não é prioritário vacinar o restante grupo dos 12 aos 15 anos, mas os dados científicos mostram que é precisamente dos 6 aos 14 anos que o risco de MIS-C é maior. Contra factos não há argumentos. Todo o grupo dos 12 aos 15 anos deve ser vacinado, independentemente de terem ou não comorbilidades.

Os direitos são iguais para todos!