Regra geral, quando usamos versus (vs.) , estamos a fazê-lo num combate de boxe ou num jogo de futebol. Neste caso, não se trata de nenhuma destas situações, mas sim de uma guerra entre os Portugueses e o inimigo invisível de tamanho nanométrico que, sem olhar a meios, pura e simplesmente ceifou a vida de muitos dos nossos compatriotas. O vírus disseminou pelos continentes e não teve dó nem piedade ao escolher a próxima vítima, fosse ela uma pessoa idosa ou um bebé poucas horas depois de nascer.

Em Portugal, o primeiro caso de Covid-19 foi registado no dia 2 de Março de 2020 e, até à data, foram afetados cerca de um milhão de portugueses. Obviamente, que pelo pouco número de testes realizados nos contactos mais próximos dos doentes infetados, principalmente na fase inicial da pandemia, o número real de Portugueses que tiveram Covid-19 será muito superior à estatística oficial. Não querendo entrar na especulação de números, pelas características do grau de contagiosidade do vírus, o número real deverá ser, no mínimo, de cerca de três milhões de portugueses infetados com Covid-19. Esta estimativa surge nos estudos que apontam que cada pessoa, em média, pode contagiar outras três. Mas existem estudos americanos em que este resultado duplica, podendo afetar 6 pessoas. Se formos fazer os cálculos com base na relação de 1:3, o valor provável será de três milhões de cidadãos já infetados.

A 20 de janeiro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o surto como Emergência de Saúde Pública de Âmbito Internacional e a 11 de março de 2020, como pandemia. A propagação do vírus teve origem na cidade chinesa de Wuhan em dezembro de 2019.

Portugal, inicialmente, não valorizou o possível impacto do vírus na comunidade. Este erro não se verificou apenas entre nós, mas praticamente em todos os países, com mais ou menos medidas sanitárias preventivas tomadas logo após os primeiros casos confirmados. O número galopante de casos foi inevitável. Vermos países como os Estados Unidos, a China, o Brasil, a Índia e do velho continente perderem o controlo da situação, independentemente do seu poder económico, só revelou uma realidade: o dinheiro não salva vidas numa pandemia até chegar a fase em que começamos a ter as vacinas como medida preventiva. Neste caso, a maior capacidade económica dos países falou mais alto e podemos registar a diferença que existe entre a percentagem da população vacinada num país europeu e num país africano. Portugal, apesar de não pertencer ao grupo de países mais ricos, pela sua capacidade de execução em grandes momentos, consegue estar no topo. Apesar da discrepância e confusão criada em alguns momentos-chave da pandemia, do ponto de vista de organização ganhámos com grande distância a outros países mais ricos. Mais uma vez, prova que os portugueses são capazes de cumprir com distinção as metas propostas.

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Toda a população mundial foi atingida num espaço curto de tempo, com aumento exponencial dos casos à medida que o vírus ganhava maior capacidade de propagação.

Quando em dezembro de 2020 começaram a surgir as primeiras vacinas, a esperança de podermos sobreviver a esta pandemia passou a ser uma realidade.

A guerra das farmacêuticas sobre a eficácia das suas vacinas para as diversas variantes passou a ser o tema predominante nos artigos científicos, com repercussões nas notícias diárias que preencheram as manchetes dos principais órgãos de comunicação falados e escritos. Fazer parte da escolha dos diversos países para combater o coronavírus, seria uma benção para os cofres das farmacêuticas selecionadas, atendendo ao milhões de potenciais candidatos a serem inoculados em todo o mundo. Esta benesse económica também se estendeu aos laboratórios na realização dos testes de antigénio ou PCR .

Infelizmente, numa pandemia precisamos da vacina e dos testes para reduzirmos ao máximo a hipótese do vírus de se propagar entre a população. Não havia outra alternativa, mas os preços das vacinas e dos testes bem poderiam ser mais aceitáveis em nome da solidariedade que deve existir entre todos os intervenientes durante a pandemia.

Com 85% da população vacinada, e sem necessidade de usar máscara nos espaços abertos, esta batalha está quase ganha. Mas como num jogo de futebol ou de boxe, quando todos os fervorosos adeptos estão à espera da vitória fulgurante de uma equipa ou de um lutador, do nada e no último fôlego, o potencial derrotado pode transformar-se em segundos num vencedor improvável.

Este exemplo foi para chamar a atenção que, com a entrada na fase 3 do desconfinamento, mesmo com a população vacinada e com a provável imunidade de grupo, a qualquer momento pode surgir a reviravolta tão indesejada. Basta que entre em cena uma nova variante mais contagiosa e agressiva do que a variante delta. E que esta hipotética variante seja resistente à ação da vacina. Todo o processo pode dar um passo atrás.

Portugal e os Portugueses precisam de continuar atentos ao desenrolar dos acontecimentos e às notícias sobre a pandemia e ter o cuidado e a responsabilidade individual de manterem as medidas sanitárias, nomeadamente em espaços fechados, ou abertos na presença de grande aglomeração de pessoas.

Todo o cuidado é pouco quando se trata de uma pandemia. A Covid-19 veio para ficar, apesar de não ter sido convidada. Vamos torná-la persona não grata das nossas vidas!

Vacinar 85% da população foi importante e quem ainda não o fez, deve fazê-lo com coragem. Mas tal como numa equipa de futebol de jogadores com nomes sonantes, se não jogarem em equipa, a possibilidade de vencer o jogo é reduzida. Numa pandemia, mesmo com a vacinação universal, não devemos esquecer as medidas sanitárias. As medidas complementam as vacinas e o resultado final será certamente a vitória de Portugal sobre a Covid-19. Como num jogo de futebol, vamos encostar o adversário no último terço do campo sem lhe dar qualquer hipótese de contra-ataque. É com esta táctica que devemos orientar a luta contra a Covid-19!