A abrir, as minhas desculpas pelo título em estrangeiro. A culpa é do meu (eu diria ligeiro, mas por certo vários familiares discordarão) distúrbio obsessivo-compulsivo, que me impele a fazer trocadilhos sempre que uma oportunidade se apresenta. E mesmo quando a oportunidade não se apresenta, eu obrigo-a a apresentar-se, para a oportunidade se habituar a conviver com as pessoas.
Foi o que sucedeu hoje, na sequência da subida ao palco do Presidente da Câmara de Lisboa, Carlos Moedas, numa conferência de Cristina Ferreira em que a apresentadora falou, de forma emocionada, dos seus sapatos Louboutin. Quem nunca se emocionou com calçado, que atire a primeira pedra. De preferência não para dentro do meu sapato, porque, por acaso, estava neste instante a recordar, com saudade, um par de chanatos ortopédicos que tive na terceira classe e gostava de não ser interrompido nesta minha evocação.
A verdade é que foi refrescante ver uma orgulhosa proprietária dos tais sapatos da sola vermelha a conviver com um político neste enquadramento. Dado que da última vez que ouvimos falar de tal circunstância foi na tomada de posse da ex-secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis, e no fim ficámos a arder com 500.000 euros de indemnização à ex-administradora da TAP, também ela assumida fã dos calcantes Louboutin.
Ainda a propósito do título em inglês. E o príncipe Harry, hein. É verdade que já aqui o mencionei a semana passada, mas hoje merece reforçado destaque, este Cristino Ferreiro da indústria livreira. Então não é que a biografia do príncipe, chamada Spare (sobresselente, em português) é já um dos livros mais vendidos de sempre. Eu, por acaso, quando ouvi que tinha sido lançada uma biografia chamada Spare imaginei que fosse do Jorge Jesus. Pensei que se tratava da biografia do técnico, na qual ele se considerava, como é óbvio, um super treinador. Daí o Spére. De “super”. Spére. Soa-me bastante a “super”, naquele já famoso dialecto que é o Jorge Jesuês. Spére, a biografia do Rei Jorge Jesus.
Bom, mas muito mais interessante que a bombástica biografia do príncipe Harry, ou a imaginária biografia de Jorge Jesus, é o verdadeiro calhamaço que são aquelas 36 perguntas que António Costa engendrou, como parte do plano maior que é engendrar uma maneira de alijar responsabilidades sobre hipotéticas – ainda que quase certas – escolhas de elementos para o governo que se revelarão desastrosas.
Sim, que isto tem sido um fartote. Se os membros do governo e autarcas do PS que, só no último mês, se viram envolvidos em moscambilhas fossem estrelas, nunca ficaria de noite. Ou se fossem gotas de água, as barragens portuguesas estariam a 110% da capacidade. Ou se fossem flocos de neve, entrávamos de imediato numa nova idade do gelo. Ou se fossem luxemburgueses, o Luxemburgo teria o dobro da população Nigéria. Ou se fossem gémeos do Wally, os livros chamar-se-iam Onde Não Estão os Wallies? Ou se fossem ursos panda, teríamos infestações de ursos panda nas nossas cozinhas. Ou se fossem fruta cristalizada, o Bolo Rei não teria massa. Enfim, acho que ficaram com a ideia.
Agora a sério, o governo do PS está a fazer tudo para acabar com esta situação. Não, claro que estes casos continuarão a repetir-se a um ritmo mais alucinante que o de certos temas do Eminem. Mas em breve tudo isso mudará. É só na escola pública os professores continuarem a fazer greves a este ritmo, mais alucinante que o de certos temas do Eminem, e em menos de nada não haverá em Portugal quem saiba contar o número de casos e casinhos no governo de António Costa, quanto mais escrever para os denunciar.
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