Há uns dias constatei que já não vou ao cinema para aí desde o tempo em que o Partido Socialista achava que os comunistas deviam ser mantidos bem longe da governação do país. E pensei: “Eh pá, ó Tiago, tens de acabar com esse tabu, tens de derrubar esse muro, tens de vencer esse preconceito de que, por estes dias, só há filmes do poop!” Sim, quando o tema é escatologia cogito sempre na língua de Shakespeare.

Preparava-me então para escolher o filme a visionar, quando tomo conhecimento que Lula da Silva é menino para não ver com maus olhos uma visita de Putin ao Brasil. Sendo que, entretanto, o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Un está de visita ao ditador russo. Espera lá. É impressão minha, ou estamos perante uma espécie de película do James Bond em que os super-vilões decidem unir esforços para limpar o sebo ao herói? Sendo que, neste caso, o “herói” é o mundo ocidental. Que recorre aos mais recentes modelos de trotinete eléctrica para escapar aos bandidos, resolve as situações de porrada com sessões de mindfulness, e está sempre rodeado de imensos (imensas? Imensxs?) indivíduos de género fluido.

A visita de Kim Jon-Un a Vladimir Putin, em particular, chamou-me a atenção. E porquê? Porque foi feita utilizando como meio de transporte o comboio. Isto escassos dias depois de António Costa ter anunciado a oferta, a todos os jovens portugueses, de quatro valiosíssimos bilhetes de comboio para viagens na CP. Coincidência? Ou sinal claro de que a degradação das condições de vida resultantes da governação do PS nos deixa cada vez mais próximos de uma Coreia do Norte? Um pouco de ambos, diria eu.

Os tais bilhetes de comboio foram apenas uma das ofertas para os jovens que o primeiro-ministro anunciou. A ela juntam-se uma semana nas Pousadas da Juventude e um cheque-livro. A estada nas Pousadas da Juventude até me parece bem, porque se a memória das condições deste género de albergaria não me atraiçoa, não é um péssimo substituto de uma, hoje em dia inexistente, ida à tropa. Já o cheque-livro parece-me claramente a gozar. É mesmo como quem diz: “Ó puto, toma lá um cheque-livro, que com o estado da nossa economia é o mais próximo que algum dia vais ter de um livro de cheques.”

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Bilhetes na CP, cheques-livro e pernoitas em Pousadas da Juventude que, em termos de sequência de esmolas a que este governo nos vem habituando, não devem estar já muito longe de alguma variante daquilo que, na América, ficou conhecido como food stamps. É certinho. Assim que se aproximarem as legislativas lá irá o governo de Costa distribuir livrinhos de senhas de refeição para trocar no snack-bar do apeadeiro de Marvila, antes de apanhar o comboio para ir almoçar à Pousada da Juventude de Alijó.

A menos que se faça parte do executivo da Câmara Municipal de Oeiras, bem entendido. Nesse caso, o roteiro gastronómico é aquele apresentado em sessão extraordinária da Assembleia Municipal pela versão oeirense do boneco da Michelin, Bibendum, o presidente Isaltino Morais. Durante cinco minutos, Isaltino fez um relato detalhado das suas 51 escolhas de restaurantes e respectivas recomendações de pratos. Isto só mesmo no concelho com maior nível de escolaridade de Portugal. Só malta com vastíssima experiência universitária ao nível do tirar apontamentos conseguiu tomar nota de tantas e tão boas dicas do Bibedum, perdão, do presidente Isaltino.

Isaltino que, ainda assim, garante que, por ele, nem aprecia estas almoçaradas. Segundo o próprio, muitas vezes bebe só um copo de água e petisca uma salada. Diz ele. A mim custa-me um bocado acreditar que aquele ar saudável, já no limite do robusto, acompanhado da tez rosadinha, se consiga à base de rúculas, e não à custa de fortíssimos cozidos, carnes várias, e mariscadas valentes. É como diz o ditado: mais depressa se apanha um Isaltino que um Pêra Manca.