Chego à conclusão que devo ser muito estúpida. No mínimo lerda. Se me pergutassem qual era minha posição perante a introdução no Plano Nacional de Vacinação (PNV) das vacinas contra o Rotavírus, a meningite B e o HPV nos rapazes, eu diria “não sei, não tenho uma opinião formada sobre o assunto”. Sendo Infecciologista, directora de um Serviço de Infecciologia e médica há 25 anos, devo ser pelo menos tonta, a avaliar pela quantidade de deputados devidamente elucidados sobre este assunto!

Vem isto a propósito da ingerência política sobre questões técnicas e científicas que a Assembleia da República recentemente nos presenteou sobre a introdução no PNV de vacinas, ainda em fase de avaliação por uma comissão designada pela Direcção Geral de Saúde (DGS).

A vacinação é muito bem vista em Portugal pela opinião pública, o nosso PNV é reconhecidamente um dos melhores do mundo. Nada melhor do que aproveitar a boleia e colar a política ao tema! Acontece que estes feitos não têm a ver com política mas com ciência e com competência técnica, bem como com um Plano Nacional de Vacinação emitido e actualizado pela Direcção Geral de Saúde, a qual trabalha de forma consistente e persistente ao longo dos anos, independentemente da cor política, parlamentos e governos. Só isso nos garante a confiança no sistema.

Introduzir no PNV mais vacinas implica estudar profundamente o tema, ler e reler todas as publicações científicas sobre a matéria, reunir peritos, encontrar consensos e propor o que se define como a melhor estratégia nacional. A partir daí é uma decisão política: vamos ou não alocar verbas a esta estratégia em detrimento de outras prioridades na Saúde?

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Pôr a carroça à frente dos bois, eis o que fizeram os nossos deputados: antes de um parecer técnico, suas excelências acharam que era muito bom vacinar contra estes micro-organismos (Rota o quê???… HPV o quê???…). Não posso deixar de lamentar publicamente uma colagem política indevida à excelência do PNV e de me inssurgir contra a ingerência de pessoas declaradamente incompetentes para assuntos técnicos desta natureza.

Queiram senhores deputados do PSD, BE e CDU fazer o que vos compete, ou caso se sintam infelizes na vossa profissão e gostem mais da área científica, sugiro que se candidatem às provas de ingresso nacional nas várias faculdades de Medicina ou Ciências Médicas e afins para que possam, dessa forma, dar o vosso contributo científico mais esclarecido. O PNV em Portugal continuará, estou certa, o seu caminho de excelência independentemente da política.

PS: As médias de acesso são ligeiramente elevadas

Médica Infecciologista, Directora do Serviço de Infecciologia do Hospital Fernando Fonseca