Idos vão os tempos em que assistíamos a debates políticos de qualidade, quando o dom da oratória trazia, a quem assistia, ideias claras, convincentes e envolventes, numa dança coordenada entre o uso eficaz da linguagem, gestos corporais, entoação vocal e recursos retóricos que nos inspiravam e influenciavam.
Os atores principais assinavam um pacto momentâneo de respeito mútuo, tratando-se com cortesia e consideração, mesmo em temas de discórdia. O foco estava no mérito das ideias e das propostas em discussão e a argumentação baseava-se em factos por sua vez sustentados em evidencias sólidas – um requisito para não arriscar o abandono precoce da bancada.
Quem se atrevia a ir para o campo da ambiguidade ou linguagem vaga, arriscava uma mão cheia de interpretações erróneas, o que não era de todo desejável.
Havia quase um estilo parcimonioso de escuta ativa, típico de outras gerações, e educações, o qual para além de benévolo de se sentir e ouvir, servia também para marcar uma posição de relevo no palco desejado.
O moderador, com experiência, leia-se estudo das temáticas, domínio das técnicas de comunicação, de moderação de conflitos, e da arte de saber-estar era, acima de tudo, imparcial. Ajudava a manter o debate organizado, garantindo que todos tinham oportunidade de falar e impedindo que o debate se desviasse do tópico principal, nunca se tornando o centro de atenção do momento.
Ainda assisti a muitos assim.
Hoje os debates políticos mais se assemelham a ringues de luta livre, sem regras, sem senso e sem sensibilidade – alguns até sem polidez – onde ganha mais medalhas quem mais assaltos, perdoem-me, ataques pessoais, e linguagem ofensiva utilizar.
Cega-se um olho para questões irrelevantes, munem-se de argumentos puramente emocionais ou de desinformação, e o foco é “eu, eu, eu”. As palavras saem em catadupa, não se ouvindo porque não há espaço para que uma só pessoa fale de cada vez, muitas vezes o moderador passa a ator principal e rodam as cadeiras em escarnio de mal dizer. “Está tudo mal” deve ser a frase mais ouvida e muitos vão atrás desta facilidade menos responsável que a de apresentar soluções fundamentadas.
Uns ouvem por morbidez, para justificar depois o desastre que anteviram, outros por sentido de missão perante um ato eleitoral próximo, estes são os que ainda acreditam e sentem a responsabilidade de serem eles próprios parte da história.
Eu confesso que desisti a meio, quando o meu filho me questionou sobre se é permitido duas pessoas falarem assim uma com a outra na televisão. Gosto muito de educar pelo exemplo e partilhando exemplos. Prefiro explicar-lhe as ideologias ao invés de o expor a figuras tristes. Espero um dia que seja tão critico como eu desenvolvendo um sentido de cidadania que não se coadune com ringues de luta livre e luta de audiências.