No pico do Verão, a badalada Jornada Mundial da Juventude, de iniciativa católica, abundantemente apoiada pelos órgãos públicos do Governo português e da Câmara de Lisboa mas, como é costume, sem qualquer inquérito à população, foi recebida com enorme entusiasmo pela comunicação social que admirou muitos de nós. Quanto a mim, que procuro estar informado, só descobri do que tratava a JMJ quando esta já começara.

Ao contrário da imprensa, não foi oferecida qualquer informação acerca das JNS! Tive de descobrir que as ditas Jornadas haviam sido concebidas há cerca de 40 anos no Vaticano pelo Papa polaco João Paulo II, o anterior cardeal Woytila, o qual presidiu à primeira das JMJ realizada em Roma há quase 40 anos (1986), havendo o mesmo Papa realizado nove «jornadas» pelo mundo católico fora, nomeadamente em 1991 na sua anterior catedral de Czestochowa (Polónia). Ignorar o carácter político desta específica escolha seria um completo equívoco para a história da queda do domínio soviético!

O cardeal Woytila ainda presidiu a mais cinco Jornadas até Toronto, em 2002, a seguir a Roma, pela segunda vez, em 2000. De então para cá, seguiram-se mais sete Jornadas, três das quais foram presididas pelo controverso Papa Bento XVI, antes cardeal Raczynski, excepcionalmente falecido na qualidade de ex-Papa, ultra-conservador, em 31 de Dezembro de 2022! Depois das Jornadas de Madrid (2011), sucedeu-lhe o actual Papa – o primeiro não-europeu desde S. Pedro! – que viria a presidir às Jornadas de 2013, de novo na Polónia (Cracóvia, 2016), até Lisboa, no presente ano!

Segundo a história registada pelas JMJ, são 16 eventos em perto de 40 anos de intervenções públicas internacionais durante os quais confesso ter ignorado totalmente tais iniciativas. O resultado elevado dos participantes mundiais presentes nas mencionadas «jornadas» não fez, com efeito, que se falasse delas. Em contrapartida, é lícito imaginar que as iniciativas sucessivas dos papas polaco e alemão se tenham sobretudo dedicado a criticar e, eventualmente, a suprimir o anti-catolicismo reinante em grande parte da Europa após a queda do regime soviético, significativamente coincidente com a ida do polaco João Paulo II a Chestochowa em 1991!

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Como é da praxe católica, para não especificar a praxe do Vaticano, houve, pois, uma mudança manifesta entre os presumíveis discursos do tempo de João Paulo II, que fez culminar a «queda do comunismo» em Chestochowa no ano de 1991, mas também Bento XVI, que se terá ficado pela sua Alemanha (2005) e duas outras cidades igualmente desenvolvidas em matéria de gradual desvinculação religiosa.

A primeira coisa que se nos oferece dizer é que a JMJ de Lisboa e os principais dirigentes partidários do PS e do PSD se manifestaram culturalmente, se não a favor da igualdade de valores, certamente no caminho da fraternidade e do crescimento económico, como o Papa Francisco terá já orientado há dez anos o seu discurso dirigido aos católicos praticantes e não-praticantes do Brasil (2013) e do Panamá (2019)! Lisboa e Fátima devem ter sido parecidos. Ando em busca de informação a este respeito mas desconfio que não interessa à comunicação social!

Entre esta curta análise e a «página de sábado» de António Barreto no Público de 12 de Agosto, não há nada em comum, incluída a «gloriosa JMJ». Entre as suas previsões, «o nosso destino será o da Europa», acrescentando que «teremos tanto a perder como qualquer dos nossos parceiros»! Ora, não creio de forma alguma que assim seja, como aliás não tem sido. Portugal tem «perdido» muito mais porque não sabemos «aproveitar». Novos países têm entrado na UE em proveniência dos antigos regimes dominados pela União Soviética e grande parte deles já nos ultrapassou enquanto os remanescentes continuarão a ultrapassar-nos.

Perante o que temos estado a ver nos últimos anos, é uma questão de tempo, em aceleramento aliás. Enquanto a Irlanda se pôs à frente de todos graças à relação com os USA, a Grécia e Portugal irão em breve parar aos dois últimos lugares, enquanto a Itália e a Espanha também não deixarão de cair por aí abaixo. Se alguma coisa aponta nesse sentido é o regime corrupto da «esquerda latina», cujo PIB per capita não para de baixar!

Antes de concluir, confesso não resistir à maior surpresa perante a afirmação de António Barreto, segundo a qual «os Estados Unidos perdem, já não são a nação hegemónica»! Quanto à Europa, pior ainda. Sinceramente, perdem como? Para quem? Para a China? A Índia? A própria Rússia? Só se lançarem a «bomba nuclear» mas ninguém quer crer! Sobretudo em termos económicos, muito lhes falta para chegar ao PIB per capita do Japão! É certo, desde sempre, que os Estados Unidos têm uma tendência histórica para se poupar aos conflitos exteriores, mas nada nos faz crer que seja essa a sua posição neste momento! Entre o entusiasmo das «Jornadas» e os riscos do conflito militar, pouco há por onde escolher!

P. S. Entretanto, um esclarecimento quanto ao facto de eu ter sido um dos assinantes do abaixo-assinado que levou o cardeal-patriarca cessante a renunciar ao nome dado à nova ponte do rio Trancão que lhe havia sido oferecido, segundo parece, pelo atual presidente da Câmara de Lisboa. A minha razão foi o comportamento secretista do cardeal demissionário perante as denúncias de crimes sexuais perpetrados por padres católicos contra crianças e adolescentes que frequentavam as igrejas. Foi isso e, aparentemente, bastou!