A morte de José Eduardo dos Santos, que serviu quase 40 anos como Presidente de Angola e o habitual alvoroço trágico dos incêndios do Verão, sinalizam a marca de água de um país parado e embrutecido,que se coloca obstinadamente fora do tempo e não quer mudar.

Os incêndios falam – com fantásticas excepções, como a de todos os bombeiros e do abnegado piloto André Serra – de um país falhado e incapaz.

Sem organização territorial eficiente, sem uma estratégia clara e rigorosa de campo/floresta e urbanismo, sem hierarquias e chefias competentes, meritocráticas, sem equipamentos adequados.

O mesmo país que, em simultâneo, está disponível para gastar milhares de milhões em projectos datados e falhados, como o da TAP ou os do acréscimo de estudos para o novo aeroporto de Lisboa.

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A par da morte de Santos, evidentemente fora de Angola e numa clínica europeia topo de gama, que fala de ditadura e anacronismo. Com que um certo Portugal sempre se deu e dá bem, pelos vistos. Afinal, o país de abril foi o país do triunfo das castas sociais e políticas dos mais imobilistas, dos mais dependentistas, dos mais incompetentes e carreiristas.

A Angola rica, partilhada, visionária, em desenvolvimento emancipalista e superador que se adivinhava em Março de 1974 (com a guerra ganha no terreno) nunca interessou a muita gente.

A paz de abril foi uma paz muito podre. Interessava primeiro Angola infiltrada e dominada pelo marxismo-leninismo, de que Santos foi um diligente apaniguado.

E depois a tal Angola cujas relações com Portugal, como Paulo Portas pedia na sua despedida partidária, não deviam ser judicializadas.

Porquê? O que se pretendia dizer: salvaguardar uma Angola à força só para alguns? Os que mandam lá e cá?

Uma Angola dos negócios e dos interesses de uns à sombra da ditadura familiar de outros, mais ou menos branda?

É tempo de Portugal e Angola, países irmãos, acordarem e dizerem basta.

Marcarem novos rumos, livres e independentes.

Dois países feitos por todos e para todos.

Livres, absolutamente livres das castas e oligarquias que os tutelam, roubam e aniquilam diariamente há demasiado tempo.

Pode ser esse e deve ser esse o primeiro dos sonhos estratégicos do PSD reconstruído de Luís Montenegro.

E como ele bem diz, é preciso acreditar.