É inegável que a principal prioridade do país e do mundo está, ou deve estar, no combate ao coronavírus – Covid19 e em todas as atividades relacionadas com esta pandemia. Trata-se de um investimento de inigualável valor, pois a saúde não tem preço e sem esta a normalidade da vida não pode ser restabelecida.
Quanto a este assunto todos sabemos da sua necessidade e urgência, bem como da importância de colaborar com absoluta necessidade e consciência, para que todo o processo se revele eficiente, sobretudo no que toca aos cuidados de higiene pessoal, ao distanciamento social e à manutenção efetiva da quarentena.
Todavia, sabemos muito bem que há outras atividades produtivas que não podem parar, tendo que se manter eficientemente a funcionar sob pena de o país ficar gravemente carente, nomeadamente ao nível do setor alimentar.
À primeira impressão, pode dar a ideia de que estarei a divagar de forma algo pessimista, extremada e pouco sustentada, mas estou convicto do que digo e penso, numa perfeita visão de antecipação. É que continuam na minha lembrança as inúmeras vezes em que o meu pai (agora com 98 anos, ainda minimamente lúcido, a residir no Centro Social Paroquial de Izeda – Lar de Idosos) me tem referido, ao longo da vida, a fome que se vivia e sentia no país, sobretudo no interior profundo e abandonado na primeira metade do século passado, nomeadamente nas classes mais pobres e menos favorecidas, na qual se incluía a maior parte da população. E, da parte que me toca, posso até afirmar que fartura abonava pouco, já na segunda metade, até ao início da década de setenta. Defendo que cada um deva falar do que sabe e sente, de forma natural e coerente.
Tal como a saúde sofreu um “golpe” tão inesperado quanto indesejado e, até há pouco mais de três meses pouco acreditado, também no que toca à alimentação e ao fornecimento de outros produtos que, normalmente, se classificam de primeira necessidade, pode vir, a curto ou médio prazo, a manifestar-se uma situação de rotura no abastecimento da população.
Depois desta brutal “tempestade” pandémica passar (espero e desejo que não demore muito), não tenho dúvidas que a vida de todos, em geral, vai mudar, digamos que vai acontecer uma grande reviravolta. Porém, o povo precisa de se abastecer, necessita do pão nosso de cada dia, em resumo, precisa de comer. E, para isso, além da capacidade financeira para os adquirir, os produtos têm que existir.
Ora, não sendo Portugal um país autossuficiente em muitos produtos para a alimentação do seu povo, principalmente ao nível dos cereais, talvez devido aos incentivos que foram dados e que levaram à desmotivação da sua produção, entendo que chegou a hora de apostar na “renovação” do nosso setor agrícola e agropecuário, incrementando políticas potenciadoras de autossuficiências, que nos livrem das dependências exteriores. É que se, por cá, a pandemia pode levar a minimizar a produção agroalimentar, o mesmo poderá acontecer aos que, agora, ainda nos fornecem. E nem só de vinho, azeite, ou outros produtos que produzimos em abundância a nossa agente carece.
Assim, cada vez mais, a agricultura não pode, nem deve parar e os agricultores merecem ser apoiados e incentivados para continuarem a laborar!…
Mais do que nunca, sobretudo a partir dos meados do século passado, o seu contributo é vital para o país e, num futuro próximo, vamos, provavelmente, saber muito bem o que esse setor significa.
Neste contexto fico muito admirado, diria até estupefacto, pela manifesta omissão mediática da ministra da Agricultura que, nesta altura, deveria estar atenta, comunicar com os agricultores, motivar a produção e acautelar, desde já, tempos difíceis que podem vir a acontecer no que toca a recursos e abastecimento no setor da alimentação. Não devemos esquecer que vale mais prevenir do que remediar. E neste domínio, como noutros, é determinante contar e valorizar o que nós produzimos.
Senhora Ministra, olhe para além do que a vista alcança. E não se esqueça que o final de março já passou e que é muito importante, a partir de agora, potenciar, eficientemente dinamizar e defender a soberania alimentar!…