Como era de prever, depois de gastar os cartuchos da propaganda da eutanásia logo a seguir aos do anti-racismo na semana anterior, o partido governamental confia agora em aparecer nas notícias como protagonista do chamado ‘grupo da coesão’, ou seja, o grupo de países mais atrasados da União Europeia que pretendem continuar a viver encostados aos ‘fundos comunitários’ dados pelos países desenvolvidos. Basta ver a lista dos peticionários para nos darmos conta que, 35 anos depois de Portugal ter aderido à UE, o país continua a viver dos milhares de milhões de euros dos fundos comunitários sem sair da cepa torta durante o século XXI!

Com efeito, as causas da falta de desenvolvimento são inúmeras, a começar pela velha frase do economista e cientista social Gunnar Myrdal – Prémio Nobel de 1974 em conjunto com Friedrich Hayek – segundo a qual ” capital é feito em casa” e não oferecido numa bandeja. Ora, a verdade é que ano e meio depois da ‘saída limpa’ da bancarrota conseguida pela coligação PSD+CDS em Maio de 2014, o sistema de governo instalado pelo PS com o apoio do BE e do PCP, veio repor o gigantismo da função pública, o sufoco da burocracia estatal e a corrupção generalizada que nos haviam levado à falência, além de retomar o clientelismo com base nos aumentos salariais e nos serviços sociais!

Escusado é acrescentar que, a partir desse momento, o pouco crescimento que houve desde 2015 não está baseado na poupança doméstica nem nas exportações mas sim nas entradas de dinheiro do turismo e dos famosos ‘fundos de coesão’, ou seja, dinheiro que não foi feito em casa e/ou se baseou nos baixos salários da construção civil, da hotelaria e da restauração. Assim, mal se foram pagando os juros e mesmo isso foi graças à queda dos ditos juros, à ausência de inflação e à política do Banco Central Europeu, mantendo-se a dívida acima de 120% do PIB, isto é, 25.000€ por pessoa, bebés incluídos!

A campanha de casos semanais não só corresponde à falta de políticas efectivas que dêem resultados a curto prazo como procura esconder a ausência delas. O pseudo-levantamento em massa contra o acto racista que envolveu um jogador de futebol africano é tanto mais destituído de efeitos quanto isso acontece todos os dias, umas vezes mais visivelmente do que outras, e não vai desaparecer.

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O engulho sentido pela elite partidária e pelos seus seguidores nos ‘media’ não resiste, evidentemente, ao facto histórico maciço de Portugal ter sido o primeiro e o último império colonial moderno durante mais de cinco séculos. Esse facto indesmentível só tem equivalente nas mentiras com que nos enganamos a nós próprios. E o sarilho é que o antigo império não é apenas o lugar onde nasceu ou viveu uma percentagem significativa de portugueses – falo dos de origem étnica europeia, para não mencionar os de origem africana e muitos brasileiros – como é também um factor histórico da chamada identidade nacional sem o qual esta, possivelmente, não existiria e teria sido engolida pela Espanha. Para o bem e para o mal, lá estava a ‘Aliança Inglesa’.

Por seu turno, o império português é assumido, se não com ‘orgulho’, certamente como algo não indiferente à nossa nacionalidade. Lamento mas quem disser o contrário está a mentir a si próprio. O racismo não é uma mera consequência da teoria evolucionista criticada pelos antropólogos. Como o insuspeito Lévi-Strauss mostrou, aquilo a que chamamos ‘raça’ é um atributo de qualquer identidade por diferença de caracteres reconhecíveis, desde a língua à cor da pele. Não evoca ele em “Raça e História” (1952) o grupo que se designa a si próprio como ‘Homens’ por contraste com todos os outros grupos? Ser branco é não ser negro; ser português é não ser espanhol. Hoje, ser ‘um homem do mundo’ é desejável… mas ‘apátrida’ não!

Voltando à questão da eutanásia, o barulho serviu apenas à frágil maioria parlamentar actual para alimentar a política de ódio em que vivemos desde finais de 2015 e para atrair o BE ao PS. Nada mais. Se e quando uma lei definitiva passar, depois de o PR a mandar para o Tribunal Constitucional e este descalçar a bota daqui a um ano ou mais, ver-se-á em que ficamos. Na certeza de que o facto lamentável de a lei esconder o termo ‘eutanásia’ sob o eufemismo da ‘morte assistida’ não levará nenhum médico a assinar a certidão de óbito do falecido com qualquer designação que evoque a sua participação no acto.

E não será apenas por causa das companhias de seguros que não pagarão as mortes por suicídio e das quais os pretensos legisladores se esqueceram. Só por esta manifesta incompetência o parlamento já se deu ao ridículo e à má-fé. Não será com um ‘caso’ por semana que o país mudará e muito menos que a economia crescerá e a corrupção será punida.