Os Europeus projetam, já desde a década de 1950, a construção de um exército comum para defender as fronteiras do continente. Passados quase 70 anos desde o chumbo do Plano Pleven para a criação de uma Comunidade Europeia de Defesa, em 1954, na Assembleia Nacional Francesa, surge na Ucrânia um exército armado por Europeus e Americanos, com experiência de combate e competência para resistir à ofensiva de Inverno da Rússia. É este o exército europeu por que tanto esperámos?
Durante a Guerra Fria a NATO dominou a arquitetura de segurança europeia. O mundo bipolar não deu hipótese aos sonhos franceses de autonomizar a Europa do guarda chuva nuclear americano e criar uma Europe puissance. O confronto bipolar permitiu o desenvolvimento de um mercado comum altamente integrado, mas no campo militar e de política externa a Europa ficou imóvel.
Depois da desintegração da União Soviética, a Europa evoluiu para uma situação paradoxal. Por um lado, desenvolveram-se políticas e instituições de coordenação da política externa e de defesa no contexto da União Europeia. Por outro, os três principais países, a França, a Grã-Bretanha e a Alemanha permaneceram fundamentalmente em desacordo em relação ao desenvolvimento das capacidades militares conjuntas.
A guerra na Ucrânia inaugurou uma nova “era trágica”, onde a geografia, a economia e o clima parecem empurrar as potências para uma competição global pelos [escassos] recursos. A mundividência europeia, baseada na crença de que a vitória do liberalismo e a hegemonia unipolar dos Estados Unidos asseguravam um mundo seguro, desapareceu em Fevereiro de 2022. Neste novo mundo, o medo de que esta guerra seja o início de uma tragédia iminente empurrou os Europeus para a ação. Pela primeira vez, perante o regresso da guerra às portas do espaço europeu, a Europa reagiu.
Os 54 países do Grupo de Contacto de Defesa Ucraniano, que se reúnem periodicamente na Base alemã de Ramstein desde Abril de 2022, mostra que a cooperação entre os países europeus para o apoio ao exército ucraniano se tem consolidado. O grupo de Ramstein institucionaliza assim a ajuda a um exército que, apesar de alistar essencialmente soldados ucranianos, é armado e treinado por uma aliança ocidental onde os Europeus são uma peça essencial. Será esta a materialização do Plano Pleven para a criação de um exército europeu?