Os poucos mais de três meses até 10 de Março são o período mais importante da vida política de Luís Montenegro. No dia 11 de Março, será PM ou a sua vida política acabou. O líder do PSD não pode olhar para estas eleições como se fossem uma mudança natural de ciclo político. Tem que fazer campanha e lutar como se fosse o momento mais importante do seu percurso político. Precisa de mostrar uma enorme, enormíssima, vontade de ganhar. Mais vontade do que qualquer outro líder partidário.

Mas as eleições são também existenciais para o PSD. Se os sociais democratas não ganharem as eleições, depois do desastre que foi o governo socialista, podem deixar de ser um partido de governo. Significaria ainda, muito provavelmente, a mexicanização da política portuguesa. Pelo contrário, uma vitória de Montenegro devolve ao PSD o seu lugar na política nacional, e reforça a vitalidade da democracia pluralista.

Há quatro questões decisivas para a campanha eleitoral. Antes de mais, o crescimento da economia portuguesa. O crescimento económico não é um termo vago. Significa crescimento dos ordenados, e isso interessa muito a todos os portugueses. Sem a economia a crescer, os ordenados não aumentam. O PSD tem que mostrar aos pequenos comerciantes, aos pequenos e médios empresários, aos jovens empreendedores, a coluna vertebral da nossa economia, medidas que lhes dê esperança para o futuro, que lhes dê animo para investir em Portugal.

Em segundo e terceiro lugar, o PSD precisa de mostrar que tem as ideias certas, e as pessoas competentes, para reformar as duas políticas sociais mais importantes para os portugueses: o Serviço Nacional de Saúde e a educação pública. Um país que é membro da União Europeia não pode ter urgências fechadas nos fins de semana. Não se pode pedir aos portugueses que evitem ir às urgências durante o fim de semana. Ninguém escolhe o momento em que fica doente, sobretudo as populações mais envelhecidas e frágeis. Ainda fico espantado quando verifico que a maioria dos reformados e dos idosos votam no PS. Um SNS que funcione é uma das políticas mais importantes para a nossa população reformada, que fez enormes descontos durante toda a sua vida profissional e exige, e bem, tratamentos de saúde adequados. Os idosos portugueses não querem governos que aprovem a eutanásia. Querem serviços que olhem e bem pela sua saúde.

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Os portugueses também querem escolas públicas que não fechem, com condições para os seus filhos aprenderem, sem surpresas frequentes de greves dos professores. Portugal tem um número crescente de famílias monoparentais. O que fazem essas mães e esses pais quando as escolas fecham? Como vão trabalhar? Onde deixam os seus filhos? Tal como no caso da saúde, os portugueses precisam de acreditar que um futuro governo do PSD tem as medidas certas para melhorar a educação pública.

O PSD também precisa de recuperar votos entre os reformados. O afastamento entre os sociais democratas e os idosos foi uma maiores injustiças da vida política portuguesa. Foi o resultado das políticas do período da troika. Mas quem trouxe a troika para Portugal e quem assinou o acordo com a União Europeia e com o FMI foi o governo socialista de Sócrates. O governo de Passos Coelho cumpriu a sua obrigação e salvou Portugal. Na campanha que aí vem, o PSD não pode deixar o PS voltar a reescrever a história e vai tentar. A verdade histórica é necessária para recuperar o voto de muitos reformados. Além disso, o PSD tem que ser absolutamente claro, como alias já fez Montenegro, que o seu governo não fará cortes nas pensões. Até porque o período extraordinário da troika não regressará. Há ainda outro ponto favorável ao PSD. Muitos dos reformados são pessoas naturalmente conservadoras. Não querem um governo liderado por um radical como Pedro Nuno Santos, aliado aos extremistas do Bloco. A dupla Pedro, Mariana, não deixará muitos idosos tranquilos. Querem um PM responsável, moderado e sensato.

Muitos afirmam que a maioria dos portugueses ainda não olha para Montenegro como um futuro PM. Admito que assim seja. Mas estas eleições antecipadas foram uma surpresa absoluta. A demissão do PM aconteceu em menos de 24 horas. Ninguém estava à espera. Ora para a maioria dos portugueses, a política não é uma prioridade das suas vidas diárias. Para os portugueses, as eleições seriam em 2026, por isso não tinham que olhar para Montenegro como um futuro PM. Agora tudo mudou. As eleições são daqui a pouco mais de três meses. Pela primeira vez, vão olhar para Montenegro e pensar se estão a ver o próximo PM. Tudo começa agora. E tudo depende do que Montenegro e o PSD fizerem.