A notícia de que a nova licenciatura em Medicina pela Católica terá propinas de 16.500 euro por ano provocou no  Twitter um chilrear onde os alvos, estranhamente, acabaram por ser as universidades públicas. Luís Conraria insurge-se contra as universidades públicas (leia-se a NOVA, um alvo predileto deste colunista que também é professor na Universidade do Minho) que têm mestrados em Economia com propinas acima dos 10.000 euros. Paulo Pedroso (antigo ministro e ligado ao ISCTE-IUL) faz profissão de fé na universidade pública, nos mestrados integrados (a réplica das antigas licenciaturas de 5 anos agora com 3 anos de licenciatura “integrados” com 2 de mestrado) e na propina única (ou seja, a aplicação a todo o ciclo de estudos da propina única da licenciatura que é regulada pelo governo e que neste momento ronda os 600 euros anuais).

Discordo daquelas opiniões por motivos de lógica económica, de conceção do desenvolvimento individual dos jovens, de justiça social e de liberdade académica. Qualquer destes motivos daria, por si, um artigo, pelo que serei sintético: 280 caracteres no máximo, como nos tweets que me motivaram.

Tweet-1. Bolonha, tal como o Mercado Único para as empresas, criou uma enorme oportunidade de crescimento àqueles que se adaptaram, (e uma ameaça para aquelas que persistiram nos velhos modelos), criando de mestrados autónomos, ensinados em inglês, capazes de concorrer em todo o espaço europeu por alunos pagantes de propinas.

Tweet-2. Esta resposta, conjugada com a qualidade das escolas nacionais e um estilo de vida aliciante, foi um sucesso e deu origem a uma nova indústria exportadora, que rivaliza hoje em importância com muitas das indústrias tradicionais.

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Tweet-3. O desacoplamento das licenciaturas e mestrados abriu novos horizontes formativos e de desenvolvimento para os jovens através de formações em zig-zag onde uma licenciatura em filosofia pode ser combinada com um mestrado em finanças.

Tweet-4. Uma população educada e capaz de aprender ao longo da vida é uma grande fonte de enriquecimento coletivo. Qualquer pessoa decente concorda que a nenhum talento deve ser negada oportunidades de frequentar qualquer ciclo de estudos por motivos económicos.

Tweet-5. O ensino gera benefícios sociais e privados. Com os primeiros ganhamos todos; nos segundos ganham os indivíduos através de maiores rendimentos auferidos ao longo da vida. Até ao secundário o social domina. Depois o balanço altera-se. Nos mestrados predominam os ganhos individuais.

Tweet-6. A decisão de frequentar um mestrado é uma decisão de investimento individual em mais oportunidades e melhores salários. Não existe nenhuma razão para serem universalmente financiadas pelos contribuintes. Qual a justiça social de financiarmos todos quem vai trabalhar na banca de investimentos na City?

Tweet-7. O ensino superior público tem um patrão peculiar: pobre, endividado, que não o financia adequadamente nem permite que ele se financie. Assim é difícil competir. Assim é difícil oferecer qualidade. Assim é difícil honrar as expetativas de toda uma sociedade.

Tweet-8. O financiamento integral do ensino superior pelo Orçamento do Estado torna-o escravo dos governos, menoriza-o e sujeita-o às menores flutuações dos humores políticos. A funcionalização da Universidade é a sua própria negação.