Numa era dominada por sucessivos boletins informativos e por constantes emergências e reviravoltas políticas, as lições de história frequentemente se afiguram como distantes e irrelevantes, na medida em que se considera que há uma rutura absoluta entre o passado e o presente. De facto, vezes sem conta, quando confrontadas com eventos políticos e sociais históricos, muitas pessoas reagem com incredulidade, o que é não só um reflexo do nosso distanciamento com a história, mas também um sinal mais profundo da incompreensão das intrigas políticas que, tal como no passado, continuam a ser uma constante na nossa sociedade. É assim porque a nossa literacia política e histórica é, regra geral, extremamente reduzida, o que dificulta a contextualização e entendimento dos eventos políticos contemporâneos.

Uma possível razão para este desapego histórico no que concerne à política pode prender-se com uma (aparente) evolução dramática das normas e práticas políticas ao longo do tempo: os cenários políticos do passado parecem ser radicalmente diferentes aos padrões contemporâneos, criando uma distância psicológica que não corresponde à verdade. Efetivamente, Michel Foucault, filósofo francês, em toda a sua obra, alimenta esta ideia de que os fenómenos do passado não são tão diferentes dos fenómenos do presente, defendendo que, na sua essência e intenção, aquilo que se fazia no passado é o mesmo que se faz hoje, apenas apresentando manifestações diferentes (por exemplo, no que concerne à criminalidade, para punir um ofensor, no passado o Estado dispunha da vida do delinquente através da pena de morte ou do suplício, enquanto nos tempos presentes o faz através da prisão, sendo que em ambas situações o que está patente é a exibição do poder do Estado sobre os seus cidadãos).

Adicionalmente, o nosso sistema educativo tende a apresentar a história de uma forma fragmentada e superficial. Exige-se, muitas vezes, que os estudantes aprendam apenas sobre determinados eventos-chave e sobre determinadas datas sem mergulhar nas motivações e consequências desses eventos. Este ensino fragmentado impede um verdadeiro entendimento da evolução política e do elo entre o passado e o presente, tendo como resultado que, quando confrontadas com determinados factos históricos e políticos, a falta de conhecimento contextual os torne quase míticos.

Portanto, é imperativo que sejamos capazes de cultivar uma literacia política e histórica robusta, o que implica que devemos ir além das narrativas superficiais e fragmentadas a fim de explorar verdadeiramente as causas subjacentes, os contextos e o impacto dos eventos históricos e políticos que nos permita compreender o presente que vivemos. Só assim poderemos reconhecer os padrões contínuos, repetitivos e cíclicos na política e aplicar as lições do passado para enfrentar os desafios de hoje (como diria Mark Twain, “a história não se repete, mas rima”). Definitivamente, uma compreensão mais profunda da política e da história, ou, por outras palavras, uma melhor literacia política e histórica, além de enriquecer o nosso conhecimento (e isto, por si só, não é uma razão menor), transforma-nos em cidadãos mais informados e ativos na vivência de um presente que compreende o seu passado e encara o futuro para melhor o construir.

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