Parece que abriu a “época de caça” aos potenciais estudantes de Ensino Superior. As universidades júnior, as de verão, as academias, os campus e os ateliers dedicados aos jovens que se encontram a frequentar ou a finalizar os seus cursos de secundário multiplicam-se e as instituições universitárias e politécnicas desdobram-se para criativamente cobrir com ofertas de programas a diversidade de áreas científicas existentes.

A Joana, que está no 11.º ano, já participa nessas iniciativas desde o 8.º ano e aguarda ansiosa por todos os Julhos. São semanas certinhas para a experimentação em projectos diferentes e para conhecer e conviver com outros adolescentes que, como ela, vão fazendo planos mais ou menos conscientes para os seus futuros. Do seu grupo de amigos da escola nunca conseguiu convencer ninguém a participar com ela – “ai não me apetece, quero é ir para a piscina”; “Oh que importa? Tudo vai depender das notas dos exames…”; “não conheço ninguém, vai ser seca” ou “já sei que curso quero, não vou perder tempo a ver outras coisas”. Abana os ombros e sacode o cabelo para trás, focada que está em conseguir dar resposta a todos quantos lhe perguntam “Então, já sabes o que vais seguir?”. Na verdade, não sabe e isso deixa-a preocupada e triste porque sente que já o devia saber, porque os seus colegas já lhe parecem estar decididos, porque os seus pais se desesperam com a sua indecisão e se estendem em sugestões ansiosos que estão em resolver este problema: “E já viste aquele site dos cursos? Pois, já tinhas dito que sim. Olha, e se fosses para engenharia informática? Há imensa procura, não terias problemas de emprego. Já sei, já sei, não queres estar enfiada num escritório. Sabes que não te queremos influenciar, tu é que escolhes! Mas, e se fosses falar com aquele colega do pai lá da empresa que coordena os estagiários? Não o queres aborrecer… E o que te disse a Psicóloga no 9.º ano? Podias lá voltar, nós marcamos, o que dizes?

Em 2017, estavam matriculados no ensino superior português 361.943 alunos mas segundo um estudo da DGEEC sobre o trajecto dos estudantes que ingressaram em cursos de licenciatura, após 4 anos 11% continuavam inscritos mas tinham mudado de curso e 1 em cada 4 estudantes abandonam o Ensino Superior sem terminar os seus cursos… E o país que tanto necessita de cidadãos qualificados!

A tomada de decisão vocacional não se faz por decreto, como muitos parecem crer, como se aos 18 anos todos os jovens ficassem a saber de imediato o que pretendem fazer profissionalmente. É como esperar que todas as crianças deixem as fraldas na mesma altura, ou que aprendam da mesma maneira, ou que se interessem por namorados e namoradas nas mesmas férias. Grande parte dos adolescentes não percebe para que serve a matéria que dão na escola e que ligação esta poderá ter com as profissões, apesar de a irem aprendendo e de superarem exames. Outros tantos, conseguem desfiar nomes de cursos superiores, mas desconhecem na realidade como é o dia-a-dia de trabalho dos profissionais e quase nunca experimentaram ter um part-time. Outros ignoram as ofertas formativas e pouco ou nada investem em explorar o mundo do trabalho, ao contrário da Joana que procura aproveitar as oportunidades para tentar descobrir os seus interesses e preferências e “ir vendo montras antes de comprar”, diz-me.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Na verdade, não são assim tantas as famílias que se empenham a ajudar os seus jovens a desenvolver esta dimensão, com conversas regulares sobre as profissões e acerca do que mais e menos gostam nos seus trabalhos, com actividades de lazer variadas que os possam colocar em contacto com o mundo real, com participação nas universidades de verão, com acesso a consultas de orientação vocacional em que com o apoio de um profissional se criam condições propícias para construir projectos de vida e de carreira.

A Joana encontrará a sua resposta para a questão recorrente “Então, o que queres seguir?” e parece-me que não será ao calhas ou dependendo da sorte ou da simples passagem do tempo ou da ansiedade dos seus pais… É que a indecisão (ou a preocupação e tristeza) não tem de ser um problema. Problema seria se a Joana não se envolvesse em estratégias para se descobrir e ao mundo que a rodeia ou se esta indecisão se prologasse demasiado no tempo, comprometendo o seu bem-estar e as suas conquistas.

Psicóloga especialista em Psicologia Clínica e da Saúde, Psicologia da Educação, Psicoterapia e Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira