Desde o dia 8 de Outubro de 2023, há praticamente um ano, que o Hezbollah dispara diariamente dezenas de mísseis contra o Norte de Israel (até ao momento mais de 9.000 mísseis), contra uma região cujo nome talvez diga alguma coisa a quem me lê: chama-se Galileia.

Desde essa altura que perto de 100 mil israelitas foram obrigados a abandonar as suas casas, todas as aldeias e kibutz mais próximas da linha de fronteira, pois não é possível viver sob essa permanente ameaça.

Mas quem segue a nossa comunicação social e escuta a maioria dos comentadores fica com a ideia que agora que Israel está a destruir as bases de onde partem esses mísseis, Israel é que é o agressor.

A semana passada os serviços secretos de Israel realizaram uma das mais fabulosas operações de que há memória, fazendo explodir em simultâneo milhares de pagers e walkie-talkies que tinham sido distribuídos aos operacionais de uma organização reconhecidamente terrorista, sendo que uma dessas explosões feriu com alguma gravidade o embaixador do Irão no Líbano, sinal de que o regime de Teerão está completamente envolvido nas actividades do Hezbollah.

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É difícil imaginar uma acção de contra-terrorismo mais precisa, mais bem direccionada, mas o que foi que perturbou algumas almas sensíveis? Esses aparelhos – que não tinham uso civil, há décadas que já ninguém usa pagers –, ao explodirem terão ferido alguns civis que estavam próximo. Isso foi suficiente para figuras como a congressista Alexandria Ocasio-Cortez virem dizer que tinham sido violadas as leis humanitárias da guerra.

Já depois dessa acção, Israel dirigiu mais dois ataques de elevada precisão contra instalações do Hezbollah escondidas por debaixo de casas de habitação em bairros de Beirute (habitações que serviam como escudos humanos), eliminando num desses ataques um dos terroristas mais procurados pelos Estados Unidos, Ibrahim Aqil, que era chefe de operações e comandante da Força Radwan, juntamente com a cúpula da estrutura militar da organização. Por fim, num outro ataque de elevada precisão, Israel conseguiu eliminar o líder máximo do Hezbollah, Nassan Nasrallah.

Por essa mesma altura de que se ocupavam o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, o presidente francês, Emmanuel Macron, e outras almas caridosas reunidas em Nova Iorque por ocasião de mais uma Assembleia Geral das Nações Unidas? Tratavam de propor um cessar-fogo entre Israel e o Líbano numa moção que nem sequer citava a existência do Hezbollah, uma organização que no seu historial tem o assassinato de um presidente do… Líbano. Os que tinham estado silenciosos durante 11 meses e meio durante os quais o Hezbollah flagelou as populações civis do norte de Israel de repente acordaram e incomodaram-se quando Israel começou a atacar a infraestrutura militar do agressor.

Oiço e torno a ouvir os comentadores e parece que só uma coisa os inquieta: uma escalada do conflito, o eventual envolvimento do Irão.

Oiço e infelizmente não me surpreendo. Este é também o mantra dos nossos dirigentes, incluindo nesses dirigentes o nosso governo e o nosso ministro dos Negócios Estrangeiros.

É o mesmo mantra que ouvimos há quase três anos para com a Ucrânia: o Ocidente não pode fornecer mais e melhores armas a um país vítima de uma agressão brutal “por causa do risco de uma escalada do conflito”. Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha colocam depois reservas e limites de utilização ao armamento que apesar de tudo foram fornecendo à Ucrânia porque receiam, lá está, “uma escalada”.

E é um mantra que tem um origem: no Ocidente parece que já nos esquecemos que a melhor forma de acabar com uma guerra é vencê-la. Não foi assim que acabou a I Guerra e sabemos o que aconteceu depois; mas foi assim, foi com a derrota total da Alemanha, que acabou a II Guerra e o resultado são 80 anos de paz na Europa.

Há muito que no Ocidente, na Europa, mesmo nos Estados Unidos, não há o mínimo de determinação para travar guerras e vencê-las. De certa forma ainda bem que assim é, é melhor viver em paz.

Só que Israel não está na nossa posição – Israel sabe que tem de ganhar todas as guerras que travar, porque à primeira guerra que perder pode pura e simplesmente desaparecer como Estado – algo que pode mesmo acontecer num ápice a partir do momento em que o Irão tiver a arma nuclear, o que pode estar em vias de suceder por tibieza do Ocidente (e dos Estados Unidos) e com a aparente ajuda da Rússia de Putin.

Por isso Israel está a lutar contra o Hezbollah como nunca antes tinha feito, por isso Israel não deu ouvidos aos conselhos pusilânimes dos “aliados” ocidentais e por isso o mundo é seguramente um lugar melhor depois do desaparecimento de Nassan Nasrallah e de boa parte dos seus lugares-tenente.

O Hezbollah é hoje uma organização enfraquecida mesmo que não saibamos até que ponto, e Israel mostrou que aprendeu com o 7 de Outubro: não se pode esperar que estas organizações (ou seja, tanto o Hezbollah como o Hamas) se moderem e aceitem uma coexistência pacífica com o Estado Judaico. Elas vêem-se como “o partido de Deus” e entendem que a vontade imutável de Deus é a destruição de Israel. É por isso, sobretudo por isso, que esta é também uma guerra sem fim.

PS. Tenho milhões de críticas a fazer ao Governo de Netanyahu e se fosse israelita teria provavelmente desfilado em muitas manifestações contra ele, mas os governos passam e os povos ficam, assim como a sua democracia e as suas instituições, e as do Estado de Israel não têm infelizmente paralelo em todo o Médio Oriente.