O direito à greve é um direito sagrado dos trabalhadores, mas, no caso da TAP, as greves podem ser suicidas não só para a própria companhia, mas também para alguns mercados turísticos.

No caso dos turistas russos, podemos dizer que são dos mais azarados e prejudicados, pois, por mero acaso, as greves da TAP coincidem com dois dos períodos de maior afluência de cidadãos desse país. Foi assim em finais do ano passado e poderá ser assim no início de Maio.

Devido aos numerosos feriados, os russos praticamente não trabalham entre 30 de Abril e 10 de Maio. Por isso, aproveitam para fazer mini-férias, muitos deles no estrangeiro.

Em Dezembro e Janeiro, os prejuízos para as agências de turismo russo que trabalham com o mercado português foram significativos, tendo algumas optado por se virar para outros mercados mais previsíveis, ou até mesmo falidos. À queda brusca do rublo e à crise nas relações entre a Rússia e a União Europeu que, em 2014, provocou uma queda de mais de 30% nas vendas de viagens turísticas para Portugal, junta-se a imprevisibilidade da TAP. Ora são as greves em períodos cruciais, ora são as suspensões de voos entre Lisboa e Moscovo durante o Verão, ora é a venda de mais bilhetes do que o número de lugares nos aviões.

Isto é tanto mais grave quando se constata que os preços dos bilhetes da TAP na linha Lisboa-Moscovo-Lisboa são muito elevados se comparados com os de outros operadores.

Ou seja, a transportadora aérea portuguesa tem uma imagem cada vez menos atraente na Rússia tanto devido à má gestão da empresa, como às medidas impensadas de alguns trabalhadores quando avançam para greves suicidas. Isto é importante se tivermos em conta que, em 2013, mais de 100 mil turistas russos visitaram o nosso país e – que o digam os empresários da restauração e do comércio – um turista russo vale por dez ingleses ou alemães.

Pode-se ser contra ou a favor da privatização da TAP, pode não se estar de acordo com os salários vigentes na companhia, mas que isso não seja motivo para destruir a transportadora nacional e, além disso, provocar prejuízos irreparáveis ao sector turístico português, ramo extremamente importante para a nossa economia.

É necessário muito pouco tempo para destruir ou provocar danos irreparáveis na TAP e no turismo, mas será preciso muitos anos para recuperar a confiança dos mercados. Pois, parafraseando uma frase conhecida, para viajar, é preciso ir e voltar.

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